sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Desejos

É saudável que as pessoas sonhem. Desejem. Até algum grau de ambição, acho saudável. Então eu tenho alguns desejos e ambições também. Desejo mais espaço para morar, mas sem sair da área central. Quero um trabalho que tenha alguma estabilidade. Gosto também de trabalhos em que o idealismo seja algo desejável, não uma característica a ser abolida ou eliminada. Mas também preciso pagar as minhas contas. E sonhos se realizam para quem trabalha por eles. Nem todos os que trabalham por seus sonhos os conquistam (infelizmente). Mas todos os que os conquistam certamente suaram a camisa.
Muito bem. Todos estes prolegômenos para celebrar com os meus caros leitores alguns sonhos a tornarem-se realidade.
Queria uma casa bem grande, bem central e com um lindo quintal. Queria, especificamente, aquela casa, lá onde meus avós moraram e criaram toda a sua (nossa) família.
Eu também havia feito um concurso para a prefeitura. Dois, na verdade. Um por obrigação, meramente para manter meu emprego como médica de família. O outro mirando na pediatria. Um hospital pediátrico, para ser mais exata. Um hospital municipal onde há ensino e pesquisa. Antes de ser municipal, este mesmo hospital cuidou de mim, criança, em mais de uma ocasião. Era do Inamps. Agora é do município. Está meio sucateado, meio empobrecido, mas é um lugar honesto para se trabalhar. Ainda tem os jalequinhos surrados com o logo do Inamps impresso. Muita gente boa que faz um bom trabalho. Muita criançada que precisa de um lugar assim para recuperar ou manter a saúde. O salário podia ser melhor. Mas há perspectivas boas. Há um certo otimismo no ar.

Então, em um período de três semanas, tudo isso aconteceu. A casa dos meus sonhos ficou ao meu alcance. Não sem esforço, é bem verdade. Um esforço que caberia no meu salário de médica de família (junto com o ordenado do marido, lógico). Yabadabaduuu!!!
E aí eu já tinha sido chamada no concurso do Instituto Municipal da Estratégia de Saúde da Família (IMESF), o ganha-pão garantido. E há cerca de 20 dias, chegou o tal telegrama da Prefeitura. Yabadabadu de novo! Demorei bastante para escrever porque ainda estou no meio do turbilhão. O emprego da prefeitura, estatuto de servidor público é muito mais estável e com um plano de carreira muito melhor do que o do IMESF, celetista e com plano de carreira inexistente. Mas sai de um salário menor. Menos horas, é verdade. E no hospital que eu queria. Isso significou, no entanto, pedir demissão do meu posto de saúde, com a minha equipe cinco estrelas, meus girassois na minha sala, os pacientes já conhecidos, minha casinha por quase dois anos. O trabalho de formiguinha, de seguimento, de quase que idealismo puro. Ninguém é insubstituível, logo haverá outro bom colega a cuidar daquela população. Por enquanto, os remanescentes da equipe vão levando com um médico a menos.
Já arrumei outro trabalho para completar a renda. Trabalhos também não são insubstituíveis. Mas já sinto muita saudade da minha carreira de médica de família.
Então esta postagem é para compartilhar o susto, a saudade, os receios e também a alegria de toda essa virada que está a acontecer.