domingo, 29 de abril de 2012

Ciência

Continuo com a teoria que Joana nasceu para a ciência. Ela, agora aos 9 meses, segue com seus experimentos sobre a física e a matéria. Hoje após o jantar, sentada no cadeirão, explorava cubos de borracha. Havia seis cubos: dois cor-de-laranja, dois cor-de-rosa e dois verdes. Joana parecia sistematicamente separar os cubos por cores. Pegava cada um deles e examinava com as mãos, os olhos e a boca. Em seguida, posicionava à direita, no meio ou à esquerda da mesinha, conforme a cor. Depois de classificados, os cubos eram jogados de um lado ou de outro da mesinha. Em um lado, havia uma cadeira. No outro, o chão. Joana observava atentamente os cubos que caíam na cadeira. Os do chão, acho que não a interessavam muito, visto que ela há muito tempo joga objetos no chão, de onde quer que esteja. Quando acabavam os cubos, gritava:
- Ma, ma, ma! - enquanto olhava para mim, que estava sentada na mesa da sala.
No início, achei que ela queria sair da cadeira. Mas quando chegava perto, ela debruçava-se em direção à cadeira, tentando agarrar os cubos. Eu juntava os cubos e recolocava-os em cima da mesinha, todos misturados. E a operação começava de novo. Examinar, explorar, classificar por cores e jogar para um lado ou por outro. Ela passou uns 40 minutos na brincadeira com os cubos. Sempre séria e compenetrada, exceto quando eu juntava os cubos, momento em que batia palmas e dava gritinhos de felicidade. Oba, mais uma experiência no laboratório-cadeirão.
No banho, há meses seu grande divertimento é tentar "pegar" a água. Eu uso uma jarrinha para enxaguá-la. Quando derramo a água sobre ela, ela estica a mãozinha e "pega" a água que cai da jarra. Ficamos hoje um bom tempo na brincadeira da água que caía da jarrinha. Joana batia com as duas mãos na água e gritava de excitação depois que a água da jarra acabava.
Minhas filhas, como quaisquer crianças de classe média, possuem uma infinidade de brinquedos e livrinhos que apitam, com luzes que piscam, que falam ou emitem sons eletrônicos. O que me intriga é que seus brinquedos preferidos são os que não fazem nada. Joana gosta dos cubos e de potinhos de plástico que possam ser empilhados e derrubados. Luísa gosta de livros (os convencionais, de papel mesmo) e revistinhas. E sua brincadeira preferida é cuidar das bonecas e bichinhos. Ela os alimenta, agasalha, bota na cama, "nana" e dá banho. E enrola-os em panos. A parte preferida é a de enrolar no pano.
É claro que elas se interessam pela tecnologia. Minhas filhas não são ETs. Amam o computador e meu smartphone. E a mais velha gosta muito da televisão. Mas gostam mesmo dos cubos, potinhos, bonecas, panelinhas, bolhas de sabão, giz de cera e papel, massinha de modelar e outras peças de museu que divertiram gerações anteriores. Aparentemente, continuam a divertir as do século XXI.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Ballet

Voltei a fazer ballet. Não que eu vá me tornar la prima ballerina assoluta da Ópera de Milão. Nunca foi essa a intenção. Mas é uma boa maneira de manter a forma física. Uma maneira a que me acostumei ao longo dos últimos 20 anos.
Comecei tarde no ballet, com 14 ou 15 anos. Para candidatas a prima ballerina assoluta isso é bem tarde. Dancei bastante, mesmo assim. À medida que a vida foi acontecendo, fui me tornando menos assídua.
O problema de dançar ballet é que é um tipo de atividade física de tal maneira instigante para o cérebro, que todas as outras parecem chatas aos olhos da (ex)bailarina. Nadar idas e voltas em uma piscina, correr em uma esteira (no parque melhora um pouco), musculação. Nada disso se compara ao desafio do movimento perfeito. A dança é como uma escultura, em que damos ao corpo uma determinada forma, músculo por músculo.
Minha irmã começou a fazer ballet com seus 15 anos. Na época, acho que fiz troça. Achava meio bobo, não tinha ideia do que era o ballet. Já tinha assistido a alguns espetáculos de escola, mas nada profissional. Então um dia, passava na Sessão da Tarde um filme chamado Emoções. Mikhail Baryshikov, Alessandra Ferri, Leslie Brown e Julie Kent. A história é é relativamente pateta. Mas a dança é soberba. Em uma determinada cena do segundo ato de Giselle, há um close da câmera nos pés da Alessandra Ferri. Ela dava uns pulinhos e subia e descia das sapatilhas de ponta com uma velocidade incrível, como se não estivesse a fazer nada. Naquele exato momento eu me apaixonei pelo ballet. Acho que ainda levou um ano para começar a fazer aulas. Mas lembro-me até hoje do fascínio de ver aqueles pés.
Hoje, danço com menos glamour. Não há ensaios nem provas de figurinos. Não há combinação sobre maquiagem. Não há o teatro, o frio na barriga. Mas a sensação é a mesma. Termino este texto com os músculos doloridos do trabalho. Estou fora de forma, acima do peso. Sinto-me, por vezes, como aqueles hipopótamos dançantes de Fantasia, do Walt Disney (se bem que dançam com uma leveza invejável). Ainda assim, pouca coisa me faz mais feliz do que dançar. E tomara que seja assim por muito tempo, hipopótamo ou não.

domingo, 22 de abril de 2012

Rosário

Hoje, uma bela manhã de abril em Porto Alegre, fui prestar um concurso público. O meu local de prova era no Colégio Rosário, minha "alma mater". Acho que fazia uns 15 anos que não entrava lá. Tudo muito mederno e com um visual todo diferente. Agora chamam de Colégio "Marista" Rosário. Quando eu estudava lá, era só o Rosário. O piso é o mesmo, o bar fica no mesmo lugar, possivelmente com as mesmas pessoas dentro. A sala dos professores continua no mesmo igual, mas chama-se "espaço dos educadores" ou qualquer coisa mais modernosa do que "sala dos professores". Tive vontade de explorar o ambiente, mas os fiscais não gostaram muito da ideia de alguém circulando pelas áreas de prova depois de ter terminado. Quando eu fiz o Segundo Grau (hoje chamam de Ensino Médio), o colégio tinha meio que cara de escola pública. Tanto, que uma vez eu participei de filmagens de um comercial do Governo do Estado que cantava as maravilhas do ensino público gaúcho. Filmaram no Rosário, católico e bem pago. Uma fraude. As coisas funcionavam, mas tinha só quadro-negro e giz em todas as salas, cadeiras e mesas de madeira com tampo de fórmica, e a grande novidade eram os ventiladores de teto. O maior avanço da tecnologia era um sistema de som em todas as salas. Para assistir a vídeos, íamos para a sala 30, que era equipada com uma super TV de 29 polegadas. A grande conquista do GER (Grêmio Estudantil Rosariense) havia sido os armários para os alunos do Terceirão, que tinham aula de manhã e de tarde. Ainda assim, o que mais importava era de altíssimo nível: a qualidade do corpo docente. Nada era muito metido a besta. Hoje, tudo arrumadinho, com cara de que um marqueteiro andou por lá. TV de plasma em todas as salas, ar condicionado, cadeiras acolchoadas, quadro interativo eletrônico, quadro branco para escrever com canetas... Espero que os professores continuem bons como há 18 anos, quando me formei.

***
 
Play list da Luísa:
1. Cinco Patinhos
2. Marcha Soldado
3. Borboletinha
4. Dona Aranha
5. Chapeuzinho de Maillot
6. Allah-la-o
7. Boi da Cara Preta
8. Indiozinhos
9. Old McDonald had a farm
10. A história da "semente"

***
Chegamos há pouco de uma festa de aniversário da amiguinha da Luísa, que completou 3 anos. No salão do edifício onde a menina mora, com direito a todos os colegas da creche, escorregador inflável, cama elástica e piscina de bolinhas. Cansativo para a mamãe, mas eles brincaram até à exaustão. Gosto deste tipo de festa: docinhos feitos em casa, bolo feito pela avó, sem grandes efeitos pirotécnicos. As crianças não sentiram a menor falta dos brinquedos eletrônicos presentes nas casas de festa que são alugadas por aí. Aos 2 e 3 anos, estavam muito mais interessadas em correr como loucas, sem objetivo definido. Além disso, tinha balão. E podia pegar e brincar com os balões durante a festa! Até a Joana entrou na piscina de bolinha e brincou com uma coleguinha dela (irmã menor de um coleguinha da Luísa). Voltamos para casa todas exaustas (mamãe e filhinhas, porque o papai não se presta a frequentar os aniversários), mas felizes. E foi muito bacana poder conversar com as mães dos amigos das minhas filhas. Agora, no seu terceiro ano de creche, estou começando a conhecê-los melhor. 
Neste domingo à noite, me consola a ideia de que só faltam 5 dias para o final de semana.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Luísa gosta muito de livros. Ela escolhe, todas as noites, qual livro leremos na hora de dormir. Dia desses, escolheu o João Felpudo. O João Felpudo era um livro que tinha na casa dos meus avós. Edição de capa dura, antiga, tradução do Olavo Bilac. Não me lembrava propriamente do texto, confesso. Na última Feira do Livro, dei de cara com ele. Edição nova, outra tradução, sem capa dura. Tudo bem, era o João Felpudo que eu lembrava da infância, a mesma capa.
Havia lido um pedaço na época da compra, há cerca de 6 meses. Muito cômico, mas tudo apavorantemente trágico. Crianças levadas que sofrem acidentes horríveis e viram cinzas. Algo no estilo de Juca e Chico. Mesmo assim, Luísa adorou. Tenho cá minhas dúvidas se entendeu grande coisa, mas gostou dos versinhos. Repetiu um ou outro e, em alguns trechos dizia:
- De novo - enquanto divertia-se com as figuras.
O João Felpudo é um livro muito interessante para mim porque foi escrito de pai para filho. O autor, Heinrich Hoffmann, um alemão que viveu no século XIX, escreveu-o para seu filho de três anos. Ele procurava um livro para dar ao menino no Natal de 1844. Não encontrando nada apropriado na livraria local, comprou um bloco em branco e escreveu e ilustrou um livro. Os amigos e parentes gostaram tanto que ele acabou publicando. O mais interessante (para mim) é que Heirich Hoffmann era médico. Trabalhava em um manicômio, mas também atendia doentes em casa, como qualquer médico daquela época. Tinha o hábito de desenhar e contar histórias para distrair os pequenos pacientes pediátricos, para que não chorassem durante o exame.
Hoje, enquanto escolhia o presente de aniversário de uma amiga da Luísa na livraria do bairro, ocorreu-me que toda essa exuberância de livros infantis é muito boa, mas nos tolhe a imaginação. Há livros com teclado de piano, livros que apitam quando apertados, livros de banho para bebês, livros para o banho, livros sobre o banho. Há os que tocam música, os que imitam bichos, os que viram fantoches. Há até mesmo livros com texto e figuras, impressos em papel. Não há o que não haja. Por outro lado, quantos pais em 1844 (ou em 2012) tinham o talento e a disposição para escrever e ilustrar um livro para seu filho? E quantas crianças hoje, no mundo inteiro, têm acesso a livros lindos e instigantes, que estimulam seus pequenos cérebros em desenvolvimento?
Fico com o presente e o futuro. O passado é idílico mas, ao fim e ao cabo, o mundo gira e parece melhor hoje do que em vidas passadas, ao menos no Brasil. Menos crianças morrem com menos de 5 anos, os velhos vivem mais, mesmo quando são pobres e há muito mais crianças na escola do que em qualquer época anterior. A escola é muitas vezes ruim, os velhos muitas vezes sofrem, e a violência é assustadora. Há litros de coisas a serem feitas. Mas ainda prefiro 2012. Posso ler o João Felpudo e todos os livros que vieram depois. Temos acesso a 1844, 1912 e 2012. E tudo o que veio antes e no meio. Não é genial?

domingo, 15 de abril de 2012

Evento

Então, fomos a um evento a sós, sem crianças, pela primeira vez em oito meses. Tudo muito bom, a comida, a conversa, os amigos. Mas isso seria assunto para uma postagem muito chata. Muito mais divertido analizar a festa de 15 anos que acontecia no salão ao lado.
Umas três pessoas da nossa mesa foram ao toillette e voltaram horrorizadas com os trajes (ou a falta deles) das mocinhas da festa. Confesso que, quando fui, havia duas meninas muito maquiadas, com um salto bem alto e vestido curto, mas adequado. Mostravam as pernas, nada de mais. Os outros relatos, no entanto, falavam daquele conjunto de blusinha tomara-que-caia e sainha tomara-que-suba.
- Praticamente um cinto largo - dizia uma horrorizada - Uma coisa tão apertada que não dá pra respirar e tão curta que não dá para sentar.
- Como é que os pais deixam sair de casa assim - questionava outra.
- Graças a Deus só tenho filhos homens - respirava aliviada uma terceira.
Ocorreu-me lembrar àquelas caras e provectas senhoras, respeitáveis mães de famílias e com bons empregos estáves, que nos conhecemos do outro carnaval. Há 20 carnavais, para ser mais exata. E que há 20 anos, acho que nossas saias eram bem curtas. E recordo-me de ao menos uma de nós que saía de casa vestida praticamente como uma freira. E com o vestidinho tomara-que-me-comam (com o perdão do termo chulo) dentro da sacola, para o pai não ver.
Comecei a lembrá-las de tudo o que nós fazíamos antes de sermos mamães. Coisas que minha mãe até hoje acho que não sabe. E que eu espero nunca ficar sabendo sobre as minhas filhas, em um futuro breve. Nada que nossos pais e quaisquer outros adolescentes saudáveis também nunca tenham feito. Sem o consentimento dos genitores, lógico. Com raras excessões trágicas, estamos todas aqui para nos horrorizarmos com a geração seguinte.
Na segunda ida ao toillette, deparei-me com a tal sainha tomara-que-suba. É verdade, curta demais, mesmo para que tem 15 anos, supondo-se que a calcinha da moça deva ficar embaixo da saia, e não abaixo dela. Obviamente já haviam consumido uma quantidade considerável de álcool, aos 15 ou 16 anos. Mas isso faz parte da cultura geral do país, que inventa leis que jamais serão cumpridas. E nada que não tenha havido nos 15 anos da minha avó.
Mais divertido do que a celeuma da (falta de) roupa das meninas, no entanto, foi a diferença entre os meninos e elas. Elas, saia curta ou não, parecem mulheres (não me admira aparecerem grávidas aos 13 ou 14, não importa a classe social) Os meninos, ao contrário, parecem ter 12 anos. Os paletós com a manga comprida demais, a calça meio caindo e que arrasta no chão. A camisa para fora da calça, mesmo no início da festa e mesmo de gravata. E, com uma ou duas excessões, todos de tênis. Isso, de tênis de corrida verde-limão logo abaixo da calça social, da camisa e da gravata. Os cabelos dividem-se em franja grande em cima dos olhos ou moicanos, à moda Neymar. Sentados em um banco chupando pirulito (literalmente). As colegas, vestidas para matar, maquiadíssimas, tudo sob controle. E os gurizinhos sentadinhos a brincar com o celular ou algum Nintendo portátil, com o pirulito na boca. É evidente que elas engravidam dos meninos do terceiro ano.
Não acho que a juventude esteja perdida, quer dizer, não mais do que sempre teve. Não gosto deste discurso fatalista de que tudo está cada vez pior e o apocalipse se avizinha. Foi muito divertido analizar a adolescência dos tempos modernos. Ando muito focada na faze bebê/pré-escola dos tempos modernos. Pode ser que eu me engane, mas desde que eu consiga manter algum tipo de diálogo com as minhas filhas, todas sobreviveremos. Elas, em algum momento, vão sentir muita vergonha de mim. E eu, em algum momento, vou sentir muito orgulho delas. Ou não.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ser Mamãe 2

Então eu reli minha última postagem e fiz alguns ajustes. Está certo, eu não durmo à noite, estou sempre exausta, sempre no trabalho ou com as meninas. Minha conversa é mais chata, mas não precisa ser tudo uma tragédia. Ontem descobri uma aula de ballet das nove às dez e quinze, terças e quintas. Não vou exatamente juntar-me à companhia, mas já é um bom progresso. Ao menos queima calorias e produz endorfina, além de me obrigar a sair de casa, ir a outro lugar e falar com pessoas que não têm bebês e nem são médicas (bom, algumas são, mas o assunto é outro).
Hoje fiz a mão e as sobrancelhas. Descobri um salãozinho de beleza ótimo, bem pertinho de casa (dá pra ir andando) e que abre até às dez.
Sinto-me quase uma mulher de verdade. Minha camiseta está babada e há pingos de leite nas minhas calças. Eu tenho olheiras horríveis e meu raciocínio está lento pela privação de sono. Mas as unhas estão perfeitas, bem como as sobrancelhas. Sábado nós vamos a uma festa e contratamos uma babá para ficar com as crianças.
Em outro front, decidi ler meu livro dentro do lotação. Uma das maravilhas de não dirigir ao trabalho é aproveitar aqueles doze minutos do trajeto para ler, dorminhocar ou simplesmente não pensar em nada. Hoje, no caminho de volta, consegui ler três páginas do Castelo nos Pirineus, de Jostein Gaarder. Foi mais do que eu havia lido em dias.
Enquanto isso, não posso deixar de compartilhar meus pequenos momentos Amélie Poulain da maternidade, como a Luísa perguntando se vai ao "pneu" amanhã - referindo-se à consulta com o pneumologista.
- Sim, Luísa, amanhã iremos ao pneu - não me contive.
E, enquanto termino esta postagem, olho para o meu braço e vejo a impressão da orelhinha da Joana no meu braço, no local onde sua cabeça estava apoiada para ela mamar, deitada e abraçada comigo agora há pouco. E olho, num relance, para minhas unhas perfeitas. Talvez haja vida na maternidade.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ser Mamãe

Ser mamãe é realmente maravilhoso, como Vinícius de Moraes nos explica no seu Poema Enjoadinho. Amo minhas filhas mais do que minha própria vida. Só que ultimamente, parece que meu único assunto são elas. Embora seja fascinante observar essas duas pessoas a tomarem forma e tornarem-se gente, fico a me lembrar que eu tinha uma vida antes delas nascerem. Eu já era médica, eu dançava ballet, eu adorava viajar. Sempre tinha um bom livro para comentar, um bom filme para compartilhar. Saía em botequinhos, tomava a fresca em noites claras de abril, como esta de hoje. A vida era maior que trabalho e bebês. Eu dormia à noite! Lembro-me daquele filme Hook, a Volta do Capitão Gancho. Dustin Hoffman, o próprio Capitão Gancho, em determinada cena, diz para a menininha algo como:
- Seus pais eram mais felizes antes de vocês nascerem. Eles namoravam sob a luz do luar, não tinham crianças repetindo incessantemente seus desejos mesquinhos e dizendo "eu quero, eu quero, eu quero, meu, meu, meu, eu, eu, eu, eu"
Não acho que eu fosse mais feliz antes das meninas nascerem. Não posso conceber minha vida sem elas. Se não as tivesse, desejaria profundamente a maternidade. Mas também sinto falta de todas as coisas mesquinhas e egoístas de que pessoas sem filhos desfrutam na vida.
Em resumo, não gostaria de não ter filhos. Mas sinto falta do tempo em que a minha conversa era mais interessante. Faz três dias que eu não consigo ler um livro. A maternidade tomou conta de todos os aspectos da minha vida. Preciso de um alter-ego menos maternal e mais adulto. Preciso de livros que não falem de pediatria, educação de filhos e bebês. Preciso ver filmes que não sejam dos Backyardigans. Esta imersão perene no universo dos bebês está minando minha inteligência.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O Brasil está ficando chique. Em outros países, mais avançados, é comum as pessoas da classe trabalhadora ter empregos "braçais" para pagar a faculdade. No Brasil, no entanto, o mais comum é serem os universitários de famílias privilegiadas, sustentados pela família durante o curso. No máximo, arrumam um estágio remunerado na área. Trabalhador trabalha e não estuda.
Mas o país avança. Ontem, quando o encanador foi fechar a parede da minha sala, me disse:
- Depois eu faço o orçamento dos outros serviços, pois tenho que me aprontar para ir à faculdade.
Não contive a curiosidade e perguntei o que ele cursava, imaginando engenharia ou arquitetura. Não. O moço cursa psicologia. Achei genial. Um encandor que estuda psicologia. Extremamente desenvolvido da nossa parte. Contou-me que vem de uma família de pedreiros, o pai e o irmão mais velho também trabalham na área. Tem curso técnico de eletricista e encanador. O resto, foi aprendendo com o pai. Mas sempre quis estudar psicologia ou serviço social. Nos últimos anos, os serviços ficaram mais caros, com a expansão da contrução civil. Começou a economizar, alugou um apartamento no centro e consegue pagar o curso noturno de psicologia. Vindo de escola pública, é difícil passar na Universidade Federal.
Um paradoxo, não? Famílias com mais dinheiro pagam uma quantia razoável pela educação inicial dos filhos e, se estes souberem aproveitar, estarão mais equipados para passar na Federal. Jovens de baixa renda, que só conseguem estudar em escolas públicas e precárias, precisam eles mesmos fazer o esforço para pagar faculdades caras e, muitas vezes, precárias.
Mas há esperança. Ronaldo será psicólogo. E seus filhos, possivelmente, terão acesso a uma educação de melhor qualidade.
Mas o avanço virá mesmo quando os filhos do Ronaldo, assim como as minhas filhas e os de todos os outros puderem estudar em uma mesma escola pública. Porque ela será tão boa ou melhor que as particulares. E as pessoas optarão por escolas particulares por motivos religiosos ou de cunho ideológico. Não por questões de qualidade.
E agora, bato meus calcanhares três vezes e volto para o Brasil. Enquanto economizo cada centavo para pagar a futura escola particular das minhas filhas.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Acalanto para Joana

para a melodia de Menininha, de Vinícius de Moraes
Joaninha do meu coração
Dorme um sono tranquilo
Sem bicho-papão
Menininha travessa a mamar
A mamãe tá cansada
E o papai a roncar
Dorme um sono gostoso
Teu rosto mimoso
Sem tosse, sem choro
Sem bicho-papão.

Joaninha, que graça tu és
Quando dormes serena
E eu sem estress
Dorme assim, meu amor, sem chorar
Porque a noite já acaba
E o dia a raiar
Minha filhinha amada
Insone, danada
A mamãe tá cansada
E já vai trabalhar.

Fica assim, fica assim
Sem crescer
E te lembra de mim pelo leite que eu dei
E também não te esqueças de mim
Quando enfim souberes tudo aquilo que eu passei.