sábado, 13 de abril de 2013

Livros

Ontem terminei de ler um livro. Na verdade, três livros. Eu li a trilogia Millennium, de Stieg Larsson. Muito bom, e tudo, mas é que sempre que eu acabo um livro grande (tipo Millennium, O Tempo e o Vento, etc.) eu chego nos capítulos finais sabendo que sentirei saudades dos personagens. Passei os últimos dois meses a conviver diariamente com Lisbeth Salander e todos os outros. De repente, o livro acabou e eles ficaram lá dentro. E eu aqui fora, com a minha própria novela cotidiana. Surreal, ainda que verídica.
Pode ser que alguém, ao ler o que escrevo, sugira internação compulsória. É que eu chego a travar diálogos imaginários com alguns personagens. (A Luísa faz isso com a turma da Mônica e os Smurfs, mas ela tem três anos). Em algum momento, conversei com várias dessas pessoas imaginadas por outrem, que entraram na minha vidinha pela literatura. Conversei, por exemplo, com o Dr. Carl Winter, médico alemão radicado em Santa Fé, por horas a fio durante a faculdade de medicina. Falávamos sobre os avanços (e retrocessos) da medicina ao longo dos tempos.
Da mesma forma, travei diálogos imaginários com Lisbeth e com Mikael Blomkvist. Com vários outros personagens também. Questionei os métodos do psiquiatra, dr. Peter Teleborian, sobre o manejo da agressividade em crianças altamente estressadas.
Parece loucura (provavelmente é), mas surgiram alguns insights para o trato com meus próprios pacientes, de carne e osso, nas minhas psicoses literárias. Desde Carl Winter. E agora com Peter Teleborian.
Agora preciso achar um substituto à altura para preencher minha imaginação. Aceito sugestões.
***
Nossa casa nova bem velha é oficialmente nossa, segundo o cartório. Paguei os dois olhos da cara e fiquei devendo um dedo de cada mão para pagar pelo papel. É um papel. Um papel importante, evidentemente. Mas não consigo digerir o fato de gastar cinco mil reais para ter escrito que a nossa casa é nossa. O interessante é que o preço do papel varia conforme o preço da casa. Como se custasse mais dinheiro escrever que o imóvel custa dezoito mil ou dezoito milhões. Para mim é o equivalente a cobrar um real para lavar o vidro do fuscão azul-calcinha, mas se o vidro pertencer a um BMW, o mesmo serviço, com o mesmo material e o mesmo moço a lavar, custa cem. O tal do custo-Brasil. Ou qualquer coisa assim. Revoltas à parte, estouramos uma garrafa de espumante assim que entramos em casa. (É tão mais comemorativo estourar uma garrafa de Champagne, mas o fato é que o espumante não era de Champagne, e sim da Alemanha. Então, temos que dizer espumante. O século 21 às vezes me cansa) Depois, fomos ao Pedrini comemorar. Com crianças e tudo. A Luísa, que está a aprender inglês na escola, queria uma "comida em inglês". Comemos "open little sandwiches", e ela ficou satisfeita. A Joana, atualmente, fala em húngaro. Ou talvez seja mandarim  Mas isso ela aprendeu com ela mesma. 

Não sei se um dia a reforma vai terminar. Há duas semanas, parecia a musiquinha do Vinícius de Moraes:
   "Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada - o forro foi retirado para a passagem dos fios, canos, etc.
   "Ninguém podia entrar nela, não, porque na casa não tinha chão - o piso do andar térreo também estava faltando, pois havia partes com cupim, tivemos que substituí-lo. E ficamos, literalmente, sem chão!
   "Ninguém podia dormir na rede porque na casa não tinha parede - várias foram derrubadas para a reforma.
   "Ninguém podia fazer pipi porque pinico não tinha ali - o único banheiro que funciona atualmente é o do porão.
   "Mas era feita com muito esmero na rua dos Bobos, número zero!"
Atualmente, o piso está colocado, a cozinha tem revestimento (e somente revestimento) e o forro está em andamento. O jardim parece uma instalação de arte pós-futurista e não há como andar no pátio, de tanta bagunça. Acho que vamos nos mudar, dentro de pouco mais de um mês, em plena obra. Prometo mostrar fotos, mas só depois de pronto.
No mais, as meninas vão bem, o marido também. O inverno está por começar, o que sempre gera mais trabalho. São os ossos do ofício.