domingo, 26 de agosto de 2012

Formatura

Neste final de semana, fomos à formatura da afilhada do marido. Formou-se em Educação Física em São Gabriel. Viajamos ao evento, mas Joaninha ficou com a vovó no Portinho porque achei que era muita coisa. Para ela e para mim.
Formaturas são sempre mais ou menos parecidas, seja na Sorbonne ou na Urcamp de São Gabriel. Jovens lindos e maquiados, cheios de sonhos e de boas intenções, pais e avós com lágrimas nos olhos, discursos, protocolo, beca, chapéu. Há quem considere meio brega, toda aquela pompa. Acho até que é meio brega, toda essa pompa. Mas é bonito. E o povo se diverte.
Por motivos de Luísa, não pudemos ficar muito na festa. Apenas comemos e saímos meio fugidos, pois a pobrezinha estava morrendo de sono. Mas o baile prometia. Salão decorado, meninada de vestidão ou de gravata. Buffet preparado, bebida liberada. Todo mundo animado.
O primeiro membro da família a colar grau foi ele, o marido. Mas o fez em gabinete, com todos ausentes, exceto a que vos escreve. É que o marido é anti cerimonialista. Não se agrada de grandes eventos, sobretudo quando o homenageado é ele próprio. Desta forma, o sogro e a sogra foram na formatura da neta mais velha e puderam orgulhar-se e emocionar-se pela primeira vez.
Eles próprios não puderam estudar muito quando jovens. Precisaram trabalhar muito cedo. Mas trabalharam e conseguiram dar aos filhos o estudo a que não tiveram acesso. Dos quatro filhos, um formou-se em Direito, os outros têm o ensino médio. Dos cinco netos, acabaram de formar a mais velha, aos 22 anos, oradora da turma. E os outros prometem. Provavelmente foi a primeira das cinco formaturas de que poderão orgulhar-se.
A família, da região das Missões, fretou um ônibus para ir a São Gabriel. Chegaram pouco antes da colação de grau e deveriam partir após ou durante o baile. Preocupado com os pais, idosos, que poderiam ficar cansados até as altas horas da madrugada à espera do ônibus, o digníssimo ofereceu nosso quarto no hotel para eles descansarem um pouco até a hora de partir.
- Que ir pro hotel, guri, a gente quer dançar! - disse a sogra, surpresa com a preocupação do filho.
Assim, fomos nós, os idosos pais da Luísa, para o hotel descansar às dez e vinte da noite. Descansamos muito bem, diga-se de passagem, ao contrário da vovó, que ficou na companhia da Joana. A Joana gosta de dançar. No colo, claro, de madrugada. A vovó dançou. Eu dormi morrendo de saudade da Joana, sem saudade da dança da madruga.
Antes que eu seja mal interpretada, a formatura estava linda. Eram apenas oito formandos. Assim, a colação durou cerca de uma hora (ao contrário da minha, que prolongou-se por torturantes quatro horas e meia). Tudo preparado com muito bom gosto. A formatura em si não foi brega. O conceito de formatura é que é meio brega. Mas é bonito. E o meu sapato era lindo.

sábado, 18 de agosto de 2012

Caros Amigos

Tem tanta coisa que eu quero escrever, tem tanto livro que eu preciso ler e tantas coisas necessárias de serem feitas, que eu precisaria viver uns 200 anos para chegar na metade. Esse é o problema da nossa época. Acho que há uns 400 anos, todo o conhecimento escrito que alguém que tivesse a sorte de saber ler poderia adquirir em toda a vida deve ter sido menor do que a Folha de São Paulo dominical. O tempo teria que parar uns meses (para os outros, lógico) para eu poder botar em dia todas as minhas leituras e escritos.
Porque além da minha vidinha intelectual e virtual, tem a de verdade. O trabalho, as filhas, o marido, o resto da família, amigos, etc., não necessariamente nessa ordem. Alfred Doolittle, um vagabundo convicto, personagem de My Fair Lady, aquele musical adorável com a Audrey Hepburn, dizia que já tinha trabalhado por um tempo, para se ocupar.
- Não vale a pena - dizia ele no filme - ocupa todo o seu dia.
Pois é, meus dias andam ocupados. Espero que seja temporário, pois a Operação Inverno vai terminar um dia, e eu voltarei a ter uma carga horária um pouco mais próxima do razoável. Por enquanto, minhas postagens andam cada vez mais raras. Não por falta de vontade. Muitas vezes, tenho até inspiração. Escrevo mentalmente no banho, antes de pegar no sono, em algum momento de calmaria no trabalho. Não sei se isso parece loucura, mas é o que acontece. Só que não tem dado tempo de escrever de verdade. E meus escritos mentais são etéreos e passageiros. Eles vão-se como vão-se as pombas dos pombais, apenas raia sangüínea e fresca madrugada.
Tudo isso para justificar as minhas ausências.
Faz-se tarde. Trabalhei 12 horas sem parar muito. Atualizei algumas tarefas da especialização à distância (tem isso, ainda). Além de todo o resto. Escrever hoje era uma questão de honra. Agora posso dormir, honrada e exausta. Se a Joana deixar, lógico, e se a Luísa não tossir muito.

domingo, 5 de agosto de 2012

Panis et Circensis

Fui ao circo na semana passada. É bem verdade que muita gente considera o Cirque de Soleil um espetáculo à parte, algo que supera o circo em si, daquela imagem que temos do inconsciente coletivo, com leão, cachorrinhos adestrados, palhaço e trapezista. O circo da música que a Nara Leão cantava é diferente do Cirque du Soleil. E certamente mais barato. O caso não é esse. Quem inventou o Cirque du Soleil, lá no Canadá, inventou mesmo um conceito totalmente diferente do imaginário popular do circo do filme do Dumbo. Mas, ao fim e ao cabo, é um circo. Com palhaço, trapezista, malabarista, equilibrista, famílias com crianças que fazem parte do espetáculo. Só não tem mais os bichos,  felizmente. Porque sempre achei o negócio dos bichos uma tragédia. Para que bicho, se a gente pode se vestir de bicho? E a gente não precisa dormir numa jaula. Eu sei, o negócio dos bichos já vem lá da Roma antiga, do coliseu, passando pela Europa medieval, quando tinha urso a dançar valsa e tudo o mais. Mas o Cirque du Soleil elevou tudo isso a um novo patamar. Lugar comum, o que eu vou escrever, vale cada centavo da fortuna que paguei pelo ingresso. Valeu toda a gincana para conciliar o vôlei do marido (eles jogam vôlei nas quintas de noite, dia de ir ao circo), plantões, crianças, equipe de apoio para cuidar delas, etc. Valeu cada segundo em que eu estava dentro daquela tenda mágica azul e amarela, com um universo paralelo que aconteceu durante duas horas. No final, enquanto dirigia para casa, depois de deixar minha tia, companheira de ir ao circo, fiquei a pensar que existem pessoas cuja profissão é produzir beleza. Há engenheiros, médicos, professores, caixas de supermercado, juízes, advogados, operadores de tele-marketing e jornalistas. Há lixeiros, arquitetas, empregadas domésticas, enfermeiras, dentistas, filósofos, comerciantes, bancarios, assistentes sociais. Todos e todos os outros que não citei ocupam-se de coisas úteis e fundamentais para o bom funcionamento da sociedade (com exceção do tele-marketing,  que não serve para nada, embora seja um emprego honesto). Mas quem bola um espetáculo como o Varekai é alguém cuja ocupação principal é produzir e mostrar o que é lindo. Alguém que pensa em como fazer o espectador virar um colibri lá pelas tantas do espetáculo. Sei que o caminho para se chegar ao belo absoluto não é belo. Bailarinas, bem como poetas, músicos e outros artistas, também dedicam-se a produzir o belo. Pé de bailarina sem sapatilha de ponta não é belo. É feio, fedorento e doente. É o preço que se paga. O nascimento da borboleta é sempre sofrido. Mas a borboleta é linda. O Cirque du Soleil é lindo. E eu virei um colibri. O estado de êxtase não passou bem. Comprei programa para saborear as páginas e lembrar devagarinho de cada pedaço de magia. O YouTube ajuda também. 


Falar em lindo, achei um livro gracinha na livraria, dia desses. Chama A Caligrafia da Dona Sofia. É sobre uma professora aposentada que escreve com sua linda letra trechos de versos que ela ama por toda a sua casinha, pelas paredes, por tudo. Ela acha que os versos precisam ficar à mostra para serem lidos. Dentro dos livros, correm o risco de serem esquecidos. Um livro infantil escrito por um sujeito chamado André Neves.  Merece ser lido e pendurado na parede. Por adultos e crianças.