quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Feira

Caminhei hoje como quem caminha em Paris. Até meus pés acabarem. Saí do trabalho, deleguei as crianças ao marido e fui à Feira do Livro. Sozinha. Já escrevi antes, para mim é melhor que Natal. Não tinha conseguido ir antes, nem conseguirei ir depois. Hoje era o dia. Andei e degustei cada banquinha, como quem procura boas alfaces na xepa da feira ecológica. Gastei mais que podia. Realizada. Barganhei, pechinchei, chorei as pitangas até conseguir o que eu queria pelo que eu queria pagar. Meu sangue gringo a tentar economizar cada centavo. Meu cérebro de rata de livraria a querer levar todos os livros para casa. Não quis perder um segundo para tomar um cafezinho ou uma garrafa de água. Todas as energias voltada para sugar tudo o possível do meu único dia de Feira do Livro. Acho que desde que eu me lembro, nunca deixei de ir a nenhuma.
Enquanto subia a rua da Ladeira, o céu azul de anil sem qualquer nuvem emoldurava a metade da cúpula da Catedral, a outra metade escondida atrás dos prédios. Passei em frente ao Tuim e senti uma nostalgia na raiz da alma. Não de alguma Porto Alegre idílica e passada. Nostalgia da minha persona idílica e passada na Porto Alegre atual. Nostalgia de ter ido sete vezes na Feira, de ter sentado em todas elas no Café do Margs ou no próprio Tuim para não fazer nada. Sem peso nenhum. Leve e irresponsável. Na sacola, apenas os livros que coubessem no meu presente de aniversário, eternamente dinheiro a ser gasto na Feira.
Bati meus calcanhares três vezes, respirei fundo e disse:
- There's no place like home.
Cantei Over The Rainbow, para um certo espanto dos transeuntes até chegar no carro. E então voltei para casa na companhia de Marcelo Delacroix, que me pareceu apropriado para celebrar meu passado dançante.
Ao chegar em casa, fui recebida aos gritos da Joana e da Luísa:
- A mamãe! A mamãe! - enquanto corriam até a porta e penduravam-se no meu pescoço.
A nostalgia acabou. Brincamos, olhamos os livrinhos novos, fresquinhos da Feira, tomaram banho e foram dormir. Arrumei o que tinha para arrumar e agora escrevo, enquanto me trato com um chá ecologicamente medonho e deliciosamente gostoso e gelado da máquina da Nestlé.
Não há lugar como a minha casa.