quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Feira

Caminhei hoje como quem caminha em Paris. Até meus pés acabarem. Saí do trabalho, deleguei as crianças ao marido e fui à Feira do Livro. Sozinha. Já escrevi antes, para mim é melhor que Natal. Não tinha conseguido ir antes, nem conseguirei ir depois. Hoje era o dia. Andei e degustei cada banquinha, como quem procura boas alfaces na xepa da feira ecológica. Gastei mais que podia. Realizada. Barganhei, pechinchei, chorei as pitangas até conseguir o que eu queria pelo que eu queria pagar. Meu sangue gringo a tentar economizar cada centavo. Meu cérebro de rata de livraria a querer levar todos os livros para casa. Não quis perder um segundo para tomar um cafezinho ou uma garrafa de água. Todas as energias voltada para sugar tudo o possível do meu único dia de Feira do Livro. Acho que desde que eu me lembro, nunca deixei de ir a nenhuma.
Enquanto subia a rua da Ladeira, o céu azul de anil sem qualquer nuvem emoldurava a metade da cúpula da Catedral, a outra metade escondida atrás dos prédios. Passei em frente ao Tuim e senti uma nostalgia na raiz da alma. Não de alguma Porto Alegre idílica e passada. Nostalgia da minha persona idílica e passada na Porto Alegre atual. Nostalgia de ter ido sete vezes na Feira, de ter sentado em todas elas no Café do Margs ou no próprio Tuim para não fazer nada. Sem peso nenhum. Leve e irresponsável. Na sacola, apenas os livros que coubessem no meu presente de aniversário, eternamente dinheiro a ser gasto na Feira.
Bati meus calcanhares três vezes, respirei fundo e disse:
- There's no place like home.
Cantei Over The Rainbow, para um certo espanto dos transeuntes até chegar no carro. E então voltei para casa na companhia de Marcelo Delacroix, que me pareceu apropriado para celebrar meu passado dançante.
Ao chegar em casa, fui recebida aos gritos da Joana e da Luísa:
- A mamãe! A mamãe! - enquanto corriam até a porta e penduravam-se no meu pescoço.
A nostalgia acabou. Brincamos, olhamos os livrinhos novos, fresquinhos da Feira, tomaram banho e foram dormir. Arrumei o que tinha para arrumar e agora escrevo, enquanto me trato com um chá ecologicamente medonho e deliciosamente gostoso e gelado da máquina da Nestlé.
Não há lugar como a minha casa.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Concurso 2

Para quem não conseguiu ler a reprodução do meu caderno de provas, transcrevo.
29.09.2013
Blog de Prova
Então cá estou, ao término do concurso para o GHC (Grupo Hospitalar Conceição), a empunhar o meu velho lápis japonês. E de princesas! Emprestado pela Luísa para dar sorte. O concurso público impossibilita os meios eletrônicos. Sem iPad para mim. Celular desligado. E preciso esperar. Segundo a regra vigente, somente é possível levar o caderno de provas transcorridas duas horas do início da mesma.
Neste momento, tenho exatos 52 minutos para escrevinhar no verso do caderno de provas. Por sorte, sobraram três folhas em branco para preencher.
Já pensou? Talvez sejam os únicos registros da minha obra literária para a posteridade (pois sim!, logo dirá um leitor).
Na sequência da postagem anterior, fiquei a matutar sobre todo o corpo de conhecimento e tecnologia obsoletos  que criamos, digamos, nos últimos 50 anos. Quem é que já viu um leitor de microfilme? Vinte e cinco anos atrás, o suprassumo da modernidade. La pièce de resistence de qualquer museu ou biblioteca com acervo de valor. O pesquisador ia pessoalmente ao local do acervo. Após alguma burocracia, sentava-se diante de uma geringonça do tamanho de uma geladeira, com uma tela preto e branca no meio de tudo, e punha-se a ler e fazer suas notas sobre seu objeto de pesquisa. Fico a imaginar quantas horas, pessoas, valores foram gastos para produzir-se uma ideia, transformá-la em tecnologia e, finalmente, manufaturar as tais "geladeiras" com tela. E mais todo o esforço para microfilmar os documentos preciosos, dando acesso aos pesquisadores, ao mesmo tempo que os resguardavam das suas mãos cheias de dedos, oleosidade e germes.
Depois, começou a digitalização. Eu me lembro do primeiro scanner (de mão) comprado lá em casa. Era um aparelhinho parecido com um leitor de código de barras. A gente passava o negócio lentamente por cima da foto (ou o que quer que fosse) e... Presto! Aparecia na tela do computador. O legal é que dava pra passar bem rápido ou em curva e, assim, criar uns efeitos legais. Foi a primeira vez que nós, reles mortais, pudemos colocar coisas para dentro do computados. Até então, produzíamos o conteúdo no próprio aparelho. Na verdade, uma máquina de escrever sofisticada, com alguns recursos para desenhar coisas e a possibilidade de gravar em um disquete ( lembram?) ou imprimir. E isolados, cada um na sua ilha digital, cujo melhor entretenimento consistia em jogar paciência.
A primeira vez que vi uma foto e um filme (se é que se pode chamar assim, quadros em sequência, com uma definição medíocre) com som, foi quando instalamos uma enciclopédia em CD. Hoje, vinte anos depois, totalmente obsoleta em forma e conteúdo, era o suprassumo da modernidade. Nos livramos de quilos de papel, para o pânico de alguns e a felicidade de outros.
Os livros, jornais e papel não desapareceram. As enciclopédias sim, para o meu alívio e a tristeza do meu marido, que adora... Dado o tamanho e o movimento das livrarias de shoppings, acho que o papel escrito ainda dura um bocado.
Ainda tenho 25 minutos de espera e o papel está quase no final.
Joana tem se comportado melhor. À noite, ao menos. Durante o dia... Fora o carpete com obras de arte em giz de cera e esculturas em papel a partir de livros, bom, ainda tem os puxões de cabelo e mordidas na Luísa. E sempre com aquela carinha deslavada.
Tudo precisa ser à prova de Joana. E, mesmo assim, ela acaba por atacar.
"Chupam gilette, bebem xampu, ateiam fogo no quarteirão (...)". Acho que o poetinha  estava a descrever minha filha. Ou então ela é tão normal que faz a Luísa parecer a diferente. Será que é coisa de segundo filho? Será que eu era assim? Esculo, medo, como diria a Joana.
E a Luísa segue uma lady. O que gera bem menos assunto para o blog. Acho que alfabetizar-se sozinha com revistinhas da Mônica.
O temoo está quase acabando e o papel também. Recebo olhares desconfiados dos fiscais, ao verem meu caderno de privas todo escrito.
No último concurso do GHC (rodei, ao errar todas as questões de informática) transcrevi I-Juca Pirama no verso do caderno. Agora estou mais criativa...

30.09.2013
Aos curiosos: conferi o gabarito e não zerei informática!

Concurso

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Filme Americano

Divirto-me muito com aqueles filmes americanos sobre cataclismas. Aquele estilo fim-do-mundo, mesmo. Era glacial súbita, inundações de proporções bíblicas, o mega vulcão de Yellowstone prestes a explodir... O que me diverte é imaginar o que sobraria do nosso mundo em alguns milhões de anos. Um canal de televisão produziu uma série chamada "O Mundo Sem Ninguém". Não perdia um episódio. O que aconteceria com nossa gloriosa civilização se, subitamente e sem qualquer razão aparente, todos os seres humanos fossem abduzidos do planeta? Todas as outras espécies permanecem inalteradas. Nós sumimos. Como seria o planeta em um, dois ou cinco milhões de anos?
Segundo a série, o planeta engoliria todo e qualquer vestígio da nossa existência. Se alguma espécie inteligente evoluísse novamente, talvez encontrassem alguns ossos.
O que me leva à próxima e óbvia pergunta: será que outra espécie inteligente (ou a nossa mesmo) habitou a Terra há 10 milhões de anos?
Nossa noção de eternidade é extremamente curta. Acho que a construção gloriosa mais antiga que conhecemos são as Pirâmides do Egito. Talvez tenham quatro ou cinco mil anos. A espécie humana existe há cerca de um milhão de anos, com variações que dependem das teorias. Cinco mil anos são meros meio por cento disso. Será que não fomos inteligentes e nem sabemos? Nossos arqueólogos acharam o Código de Hamurabi porque foi escrito em pedra. Mas e o meu blog? E todo o corpo de conhecimento virtual que existe na era digital, que depende de equipamentos sofisticados e compatíveis com cada tipo de mecanismo de armazenamento? O que um arqueólogo futurista vai achar do meu iPad? E dos pen drives, CDs, DVDs, discos rígidos, laptops, celulares? Ou do pouco que sobrar deles. Talvez um dia decodifiquem uma sequência inútil e bizarra de 0 e 1. Talvez construam modelos tridimensionais de nossas cidades de casas de adobe e façam inferências sobre se controlávamos ou não o fogo. Será que tínhamos uma linguagem oral sofisticada? Talvez o único vestígio do nosso tempo sejam pinturas em cavernas australianas de aborígenes. Ou vestígios de uma vila de pedra no topo do Everest. Não acredito que livros de papel durem mais que poucas centenas de anos. Talvez um ou dois mil anos, mas olha o estado em que encontraram os Manuscritos do Mar Morto...

***
Joaninha ataca outra vez. Depois de alguns poucos e deliciosos meses de noites bem dormidas, ela agora gosta de exercitar sua nova habilidade: levantar e sair da própria cama. Ela se acorda e, moto-contínuo, levanta-se da cama. Escutamos o tuc-tuc-tuc dos seus pezinhos pelo corredor até o nosso quarto. Ao chegar na porta, faz alguma declaração bombástica:
- A Jô não quer nanar! - quase sempre em alguma hora entre duas e cinco da madrugada.
Levamos-na de volta para sua cama, ela finge que dorme e, 30 segundos depois, está de volta. E isso dura toda a noite. Delícia! Às vezes (só às vezes) chego a achar Herodes natural (diria o poetinha...)
Mas elas ficam tão lindas de vestidos de prenda...

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Colcha Geriátrica

Há cerca de dez anos, fui morar sozinha. Saí da casa da minha mãe e fui morar em um apartamento genial na Cidade Baixa. Ficava quase na esquina da Lima e Silva com a Perimetral, no meio do fervo. Não era muito barulhento, pois não era de frente. E tinha dois terracinhos adoráveis, um de cada lado. Era o sonho de consumo de qualquer universitária. A Wó Wanda, naquela época, andava meio chateada porque não conseguia mais ir ao supermercado toda a semana, como ela sempre fizera. Os joelhos a incomodavam. Tinha toda a sua lucidez e vontade de fazer coisas preservadas, presas em um corpo que não estava dando conta do recado. Andava com umas de dizer que era uma "velha caduca". A Wó, tendo falecido com 93 anos, nunca ficou velha realmente. Só o corpo dela. E muitíssimo menos caduca! Ora bolas!
Tive, então, a ideia de pedir que ela fizesse uma colcha para a minha cama do apartamento. Ela fazia umas colchas de crochet, daquelas de quadradinhos, lindas. Acho que fez uma para cada neto e para cada filho. Mas já fazia muito tempo que não tentava fazer nada. Pedi para ela, escolhi as cores, e ela topou. Começou a fazer a colcha, trabalhando devagarinho, enquanto assistiam, ela e vô, o Jornal Nacional. Um dia, me mostrou como estava. Aí ela disse:
- Sabes, Bebel, eu sei por que tu me pediste esta colcha. Foi para "ocupar a velhinha". Querias que eu me sentisse útil...
Tentei argumentar que ela tinha zilhões de utilidades utilíssimas, além de ser uma ótima fabricante de colchas. E que eu realmente precisava de uma linda colcha de crochet para o meu novo apartamento.
- Escuta, não faz mal, Bebel. Eu gostei da ideia de fazer essa colcha geriátrica...
Ela fez um bom pedaço da colcha. Um dia, as juntas das mãos e dos ombros também começaram a doer. E aí ela não terminou a colcha.
Arrumando minha velha casa nova, minha sogra, que veio nos dar uma força neste caos de mudança, encontrou um saco com os quadradinhos prontos e todas as lãs necessárias para terminá-la. Me mostrou e perguntou se eu sabia o que era aquilo.
Sim, eu sabia. Meu pequeno imenso tesouro. A colcha geriátrica. Decidi terminá-la. Foi a Wó quem me ensinou a fazer crochet, a fazer tricot e a bordar. A Wó despertou em mim o gosto pelos trabalhos manuais. Vontade eu tinha de fazer só isso o dia todo. Pena que tem que trabalhar. Ocupa o dia todo, esse negócio de trabalho. Depois, tem as filhas, a casa, as caixas da mudança, os restos de obra e outros pepinos nossos de todo o dia. Por isso que o blog, coitadinho, ficou meio abandonado.
Mas a colcha geriátrica foi retomada. Faço uns pontinhos de cada vez. Já chorei de saudade (muita saudade) no dia em que vi os quadradinhos e o pedaço de papel onde a Wó havia feito as contas de quantos quadrados e quantos novelos de cada cor seriam necessários. Agora eu ainda sinto saudade, muita mesmo. Acho que não vai passar. Mas em vez de chorar, faço crochet. Nem que seja para o apartamento de solteira da Joana ou da Luísa.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Três Quilômetros

Descobri hoje em um documentário fascinante sobre canetas Bic (o que não inventam) que uma caneta Bic Cristal escreveria três quilômetros se medíssemos seu traço em linha reta. Eu gosto da Bic Cristal. Tenho várias canetas de pena para ocasiões especiais, mas para a rotina, gosto da Bic Cristal. Porto Alegre, todos sabemos, ainda está na era da Bic Cristal e do papel carbono. Pelo menos na área da saúde. Algumas unidades já tem vários computadores, mas os prontuários e as receitas vão de caneta esferográfica e papel. Assim como boletins de atendimento das emergências, com aquela segunda via carbonada maravilhosa,  que nem o próprio autor entende. Tudo isso pra dizer que eu devo ter escrito uns cinco quilômetros na última semana. Peguei uma Bic preta novinha em folha na segunda-feira, em Guaíba. Atirei-a na lixeira, vazia, às oito e trinta e cinco da quarta. Peguei outra nova, que já está no final. Nunca havia pensado em medir a minha quantidade de trabalho pela distância percorrida pelo meu traço.
***
Fui ao Centro buscar a escritura da minha linda casa nova. Adoro ir ao Centro. Fui caminhando da Cidade Baixa até a Siqueira Campos. Subi a Borges de Medeiros e fui caminhando pelo Viaduto Otávio Rocha, na parte de baixo, admirando todas aquelas pixações. (São feias e dão um aspecto de sujeira. Nenhum pouco artísticas. Mas fazem parte do cenário desde que o mundo é mundo. As mais legais são as que defendem o Irã, como se fosse revolucionário impedir menininhas de frequentar a escola. Viva o Brasil, que é muito mais revolucionário que o Irã!) Quando cheguei na esquina com a Jerônimo Coelho, escorreguei e caí. Virei o pé e caí sentada no chão. Não foi nada grave, estava a me levantar sozinha, quando percebi uma mão que sustentava o meu cotovelo, auxiliando meu equilíbrio. Olhei e vi que a mão pertencia a um homem sujo e barbudo, morador de rua, que cheirava a cachaça e suor velho. Só reconheci o Valdair quando ele disse:
- Doutora! A senhora caiu! Está bem? - enquanto um casal limpinho e de meia idade olhava espantado para a cena, vindo em meu socorro, com cara de pavor - Essa é a minha doutora. Ela já me tirou do buraco uma vez.
- Oi, Valdair, obrigada - respondi eu, ajeitando as sacolas no braço (impossível ir ao Centro e não sair com sete sacolinhas) - Pelo visto vou ter que tirar de novo. O que houve? Não tinhas voltado para casa?
O casal seguiu pela Borges, olhando para trás. Avisaram o brigadiano que estava na outra esquina, ainda desconfiados que o Valdair estava a me assaltar. 
- Olha ali, doutora, chamaram o guarda. Eles pensam que vou lhe fazer mal.
O PM perguntou se estava tudo bem. Respondi que sim, que tratava-se de um paciente meu, que viera em meu socorro após um tombo. Valdair continuou:
- Eu tinha parado, tinha voltado para a Janaína, até fralda eu troquei, doutora. Levei a nenê no hospital um dia que ela ficou doente. Tinha arrumado um trabalho.
- E o que houve? - eu tinha encontrado o paciente em uma consulta há cerca de 45 dias, de barba feita e camisa de poliéster limpinha e cheirosa. Cheio de planos, havia voltado a ser pai dos seus seis filhos. E marido da Janaína.
- Ah, a assistente social me arrumou um trabalho. Um trabalho bom, de lavar prato. Mas num boteco, doutora. Aqui na Andrade Neves. Bebum trabalhando em boteco não dá, né?
- É, Valdair, em boteco fica difícil. Volta pra casa. A Janaína está sozinha com os meninos. 
Fui até a parada do ônibus, esperei o Agronomia com ele e meti uma nota de dez reais no bolso do casaco dele. Pode ser que gaste tudo em cachaça. Mas era a única chance dele desembarcar na vila. 
Ora bolas, pensei eu. Lavar prato em boteco. Às vezes não sei em que mundo a assistência social vive! 

sábado, 13 de abril de 2013

Livros

Ontem terminei de ler um livro. Na verdade, três livros. Eu li a trilogia Millennium, de Stieg Larsson. Muito bom, e tudo, mas é que sempre que eu acabo um livro grande (tipo Millennium, O Tempo e o Vento, etc.) eu chego nos capítulos finais sabendo que sentirei saudades dos personagens. Passei os últimos dois meses a conviver diariamente com Lisbeth Salander e todos os outros. De repente, o livro acabou e eles ficaram lá dentro. E eu aqui fora, com a minha própria novela cotidiana. Surreal, ainda que verídica.
Pode ser que alguém, ao ler o que escrevo, sugira internação compulsória. É que eu chego a travar diálogos imaginários com alguns personagens. (A Luísa faz isso com a turma da Mônica e os Smurfs, mas ela tem três anos). Em algum momento, conversei com várias dessas pessoas imaginadas por outrem, que entraram na minha vidinha pela literatura. Conversei, por exemplo, com o Dr. Carl Winter, médico alemão radicado em Santa Fé, por horas a fio durante a faculdade de medicina. Falávamos sobre os avanços (e retrocessos) da medicina ao longo dos tempos.
Da mesma forma, travei diálogos imaginários com Lisbeth e com Mikael Blomkvist. Com vários outros personagens também. Questionei os métodos do psiquiatra, dr. Peter Teleborian, sobre o manejo da agressividade em crianças altamente estressadas.
Parece loucura (provavelmente é), mas surgiram alguns insights para o trato com meus próprios pacientes, de carne e osso, nas minhas psicoses literárias. Desde Carl Winter. E agora com Peter Teleborian.
Agora preciso achar um substituto à altura para preencher minha imaginação. Aceito sugestões.
***
Nossa casa nova bem velha é oficialmente nossa, segundo o cartório. Paguei os dois olhos da cara e fiquei devendo um dedo de cada mão para pagar pelo papel. É um papel. Um papel importante, evidentemente. Mas não consigo digerir o fato de gastar cinco mil reais para ter escrito que a nossa casa é nossa. O interessante é que o preço do papel varia conforme o preço da casa. Como se custasse mais dinheiro escrever que o imóvel custa dezoito mil ou dezoito milhões. Para mim é o equivalente a cobrar um real para lavar o vidro do fuscão azul-calcinha, mas se o vidro pertencer a um BMW, o mesmo serviço, com o mesmo material e o mesmo moço a lavar, custa cem. O tal do custo-Brasil. Ou qualquer coisa assim. Revoltas à parte, estouramos uma garrafa de espumante assim que entramos em casa. (É tão mais comemorativo estourar uma garrafa de Champagne, mas o fato é que o espumante não era de Champagne, e sim da Alemanha. Então, temos que dizer espumante. O século 21 às vezes me cansa) Depois, fomos ao Pedrini comemorar. Com crianças e tudo. A Luísa, que está a aprender inglês na escola, queria uma "comida em inglês". Comemos "open little sandwiches", e ela ficou satisfeita. A Joana, atualmente, fala em húngaro. Ou talvez seja mandarim  Mas isso ela aprendeu com ela mesma. 

Não sei se um dia a reforma vai terminar. Há duas semanas, parecia a musiquinha do Vinícius de Moraes:
   "Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada - o forro foi retirado para a passagem dos fios, canos, etc.
   "Ninguém podia entrar nela, não, porque na casa não tinha chão - o piso do andar térreo também estava faltando, pois havia partes com cupim, tivemos que substituí-lo. E ficamos, literalmente, sem chão!
   "Ninguém podia dormir na rede porque na casa não tinha parede - várias foram derrubadas para a reforma.
   "Ninguém podia fazer pipi porque pinico não tinha ali - o único banheiro que funciona atualmente é o do porão.
   "Mas era feita com muito esmero na rua dos Bobos, número zero!"
Atualmente, o piso está colocado, a cozinha tem revestimento (e somente revestimento) e o forro está em andamento. O jardim parece uma instalação de arte pós-futurista e não há como andar no pátio, de tanta bagunça. Acho que vamos nos mudar, dentro de pouco mais de um mês, em plena obra. Prometo mostrar fotos, mas só depois de pronto.
No mais, as meninas vão bem, o marido também. O inverno está por começar, o que sempre gera mais trabalho. São os ossos do ofício.

domingo, 10 de março de 2013

Historinhas de palco

Não sei bem em que ponto do plantão de hoje a conversa descambou para o ballet. Foi um horário relativamente tranquilo, no final da manhã. Todas as presentes haviam feito alguma aula de ballet na sua vida, invariavelmente na infância. Eu não. Eu comecei tarde, já na adolescência. Me apaixonei pela dança ao ver a Alessandra Ferri no papel de Gisele.
Há alguns (muitos) anos, fazia ballet de uma maneira relativamente séria. Nunca fui profissional, mas cheguei perto. Lá pela metade da faculdade, cheguei a cogitar trancar o semestre para poder dançar no circo. Não  tinha muito glamour. Era um circo meio decadente, com grandes bichos judiados e uns palhaços mal-humorados. Fiz a audição e passei. Mas não tive coragem. E não gostei dos bichos enjaulados. Mas dancei muito na vida. Houve épocas em que dançávamos quase todos os finais de semana. E, quando alguma senhora descobria que eu fazia ballet, logo dizia:
- Minha neta também, já é formada! - sempre com muito orgulho.
Ora, qualquer pessoa com o menor conhecimento sobre dança sabe que ninguém "se forma" no ballet. Se formar é terminar um curso. Terminar significa não ir mais. Se um bailarino pára de frequentar as aulas de ballet, ele instantaneamente deixa de ser um bailarino. Torna-se um aposentado. Mais ou menos minha situação atual. (Acho que finalmente "me formei")
Voltando às priscas eras, eu ia na faculdade, fazia todas as atividades curriculares e extra-curriculares, monitorias, pesquisa, extensão, etc. E então, havia o ballet. Eu fazia duas horas de aula seis vezes por semana. Mais ensaios. Todo dia. E aí, dançávamos. Dancei em escola, em associação de bairro, em hospício, na plataforma do metrô, no meio do asfalto, em galpão crioulo. E até em teatro. Muitas e muitas vezes. Acho que a vez em que eu mais ri foi numa escola. Era uma turma noturna de uma escola estadual. e deveríamos dançar Diana et Actéon. Para quem não conhece, um ballet baseado em um mito grego, em que um jovem caçador surpreende a deusa Diana e suas ninfetas a refestelarem-se nuas em um lago. Furiosa, Diana transforma o caçador em um cervo (um veado, literalmente).
Chegamos na escola, que tinha uma miniatura de palco no auditório, com uma ultra inclinação. O palco era uma ladeira. Acho que o arquiteto pensou que iriam encenar óperas. Usamos uma sala ao lado para as trocas de roupa, lógico que não havia camarins. E havia vários alunos tentando espiar as bailarinas trocando de roupa.
A fama de bailarinos do sexo masculino entre adolescentes do curso noturno da escola estadual, que nunca tinham visto um ballet na vida, não era exatamente de virilidade. Eles todos muito agitados com esse negócio de ballet, achando que só iam ver menina com pouca roupa dançando (esses eram os comentários que ouvíamos das coxias). Daí começa. Um silêncio relativo, entre cochichos e risos, hormônios palpáveis no ar. Entra a música. Entravam as oito meninas do corpo de baile, duas a duas, entre elas a que vos escreve. E então: tcharam! O solista masculino vestido de caçador grego, com uma tanguinha cor da pele, torso nu e umas sandálias faz sua entrada triunfal. Parecia a roupinha do Bam Bam dos Flinstones. Gargalhada espontânea e generalizada. Incluindo os professores da escola e, lógico, nós. Não dava para evitar, era contagiante. Deveríamos ficar com cara de paisagem, no nosso outfit de ninfeta. Mas não se escutava nem a música, de tanto que riam. Não tinha concentração que aguentasse. Terminado o negócio, a professora, furiosa, tentava passar lição de moral:
- Faltou profissionalismo!
E três de nós respondemos em coro:
- Mas nós não somos profissionais!
Ela não achou a menor graça. Juntamos as muafas e entramos nas Kombis da prefeitura, que nos levaram de volta à escola de ballet. Na Kombi da profe, todos sérios. Na nossa, a Kombi do "B", ríamos tanto que até o motorista ria junto, mesmo sem saber do quê.
Faltou profissionalismo, mas sobrou diversão. Para a platéia e para nós. Ballet não é entretenimento? Todos nos divertimos muito. Menos a profe, coitadinha.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ufa!

Estou finalmente no final da tal da especialização em saúde da família. No último mês, todo a minha energia criativa foi drenada para o trabalho de conclusão. Não sobrou tempo para o blog.
Enquanto escrevo, o Maria do Bairro toca (quase meia-noite) seu carnaval atrasado a 50 metros da minha casa. Marido dorme no sofá. Crianças na suas camas. Não tenho a menor ideia de como fazem isso, visto que, dentro da minha casa, não costumo escutar música em volume tão alto. Deve estar bom lá embaixo. Só que acho que cresceu demais. O Maria do Bairro era isso: um bloco de carnaval de bairro. Do meu bairro. Meia dúzia de pessoas a tocar um tamborim, um bumbo e um surdo. Talvez alguns metais e um doido se fazendo de puxador. Tocavam umas marchinhas aqui na rua, na semana antes do carnaval, das três da tarde às nove da noite. E aí ia todo mundo para os bares continuar a folia em outro lugar. E quem mora aqui (sim, a Cidade Baixa é um bairro residencial) ia fazer o que bem entendesse: escutar a Abertura da 1812, olhar a novela, dormir, fritar bolinhos, pular num pé só... Ou descer para a rua e ir para o boteco mais um pouco. Ou não. Eu, moradora da Cidade Baixa, aproveitava a festa, o povo e a folia e mantinha meu direito de escolha. Hoje, não é bem assim. Já é quase meia-noite, estou meio cansada do sambão (muito) desafinado que tocam lá embaixo. Acho que já estão bêbados. Virou trio elétrico. Virou main stream. Perdeu a graça. Cresceu demais. Continuo a gostar do carnaval, da ideia, do repertório. Mas sinto-me menos respeitada. Trabalhei 12 horas a ouvir queixas de famílias e crianças doentes. Cheguei em casa, dei banho nas crianças, acalmei-as, pois o barulho excessivo deixou-as agitadas. Tentamos chegar mais perto do trio elétrico, mas Luísa ficou com medo do barulho, achou muito alto. E já estava escuro, pois o carnaval já passou e o horário de verão acabou-se. Sinto-me cansada. Queria desligar o som e ir dormir, mas não posso: o som está fora do meu alcance.
Que postagem mais mal-humorada! É, acho que estou meio mal-humorada mesmo. Mas quis escrever mesmo assim.

Nossa reforma da casa nova bem velha vai a todo o vapor. Espero que fique bem lindo quando acabar, porque agora está assustadora. Mas acho que reformar a casa é um exercício necessário de desapego. Precisamos ir adiante. E manter a nossa linda casa na família.

Que alívio! Eles pararam de cantar o samba que estavam a tocar há exatos 12 minutos, 2 frases musicais repetidas de novo e de novo e de novo. Agora voltaram para as marchinhas. Próximo à tortura, no meu estado de cansaço.
Sigo no mau humor. Prometo que no próximo carnaval vai ser melhor.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Catamarã

Hoje fui trabalhar de barco. Genial. Saí de casa de carro, estacionei no cais do porto (estacionamento incluído no valor do bilhete, me disse o guarda). Peguei o catamarã, pontualmente às 7h. Desembarquei em Guaíba, tomei um ônibus na porta da estação de desembarque e desci exatamente na porta do hospital onde trabalho. Entrei na minha sala exatamente às 7 horas e 28 minutos! Na volta, o inverso. Peguei o barco das 19:30 e cheguei dentro de casa pouco depois das oito da noite. Paisagem deslumbrante, internet à bordo, televisão, ambiente fechado com janelões para ver a vista, climatizado. Só senti falta de um deck superior, para sentir o vento no rosto. Impossível, por razões de segurança, informou-me o comandante. Extremamente civilizado, isso de ir ao trabalho de barco. Não é qualquer cidade que oferece esta possibilidade. Fico chocada com o tamanho do rio (ou lago, não entrarei nesta polêmica) que banha nossa bela cidade. E, durante anos, o transporte fluvial foi solenemente ignorado. À exceção de um ou outro barco para turistas, que dá um lindo passeio por entre as ilhas e retorna exatamente para o mesmo lugar. Não pode ser considerado exatamente transporte.
O catamarã é outro caso. Também é um lindo passeio, mas tem por objetivo primordial levar pessoas de um lugar a outro (no caso, Porto Alegre-Guaíba). O trajeto implora uma estação na zona sul de Porto Alegre, antes de cruzar para Guaíba, já que o canal de navegação passa junto à margem porto-alegrense e só cruza para chegar em Guaíba. Pode ser caro, mas não deixa de ser uma opção ao trânsito caótico da metrópole.
Muito bom descobrir que existem opções viáveis ao transporte rodoviário. Há várias teorias sobre o porque de andarmos somente de carro e ônibus. Teorias conspiratórias, algumas mais ou menos plausíveis. Envolvem desde o governo de Juscelino, passando por uma suposta máfia das companhias de ônibus e de transporte rodoviário de carga.
Mas o catamarã me lembra (e, quem sabe, a mais gente) que há estradas asfaltadas e também hidrovias e (já pensou?) ferrovias! Abre uma esperança e um precedente. Foi instalado um serviço bom, prático, com um preço compatível e que não parece sanguessuga (não cobra extra pelo estacionamento, por exemplo).
Sensacional. Fora a vista, de tirar o fôlego!
***
Ouço o sujeito do corpo de bombeiros a explicar que, segundo a norma brasileira, a casa noturna não apresentava irregularidades significativas. Pois então, tenho uma novidade. A norma brasileira é ruim, não presta. E temos o vácuo de todas essas pessoas para provar. Será que é possível mudar a norma antes que mais alguém morra? 
Houve incêndios catastróficos em casas noturnas nos Estado Unidos, na China e na Argentina. Todos nos últimos dez anos. Todos com mais de 100 mortos. Todos iniciados com sinalizadores ou shows pirotécnicos. Ninguém viu essas notícias antes? 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Fantasmas

Minha vidinha privada sofreu reviravoltas nos últimos meses. Primeiro troquei de empregador (mas não de emprego), depois troquei de emprego. Agora, estou prestes a trocar de casa. Estou comprando a casa ancestral da família. Ancestral desde 1942. Levei as meninas para vê-la:
 -Mas, mamy, é a casa da Bisa! Nós vamos morar na casa da Bisa? Essa casa nova é bem velha, né?
Não imaginei que ela fosse lembrar. Fazia mais de um ano que não ia lá. Expliquei a ela que a Bisa estava no céu, que não precisava mais da casa.
- O papai e a mamãe vão comprar essa casa e trazer todas as nossas coisas para cá - disse a ela.
-  Mas a Bisa não está no céu, porque ela foi no meu quarto ontem.
Senti um arrepio. Ontem é um conceito amplo para a Luísa, quer dizer qualquer momento passado. Fiquei a imaginar se ela sonhou com a Bisa ou se realmente a avistou. Não sei no que acredito, mas não desacredito mais nada. Disse à minha filha que a Bisa poderia ir no quarto dela, sem problemas, mas que ela iria dormir no céu. Contei que eu achava que ela iria ficar feliz de a gente ir morar na casa que foi dela e do Biso.
Após este pequeno colóquio, ficou brincando um pouco no pátio e imaginando de que cor vamos pintar a parede do quarto novo.
O outro arrepio me veio quando Joana, que tinha dois meses quando a Wó se foi, apontou efusivamente para o porta-retrato de cima do piano:
- Bi, bi, bi - ela mostrava a foto da Bisa.
Eu nunca mostrei a ela as fotos de cima do piano. Nunca nomeei aquelas pessoas. Em seguida, ela apontou para a foto do meu pai e disse:
- O vovô? O vovô?
- Sim, Joana, é o vovô Gabriel e a Bisa.
Fantasmas adoráveis que parecem frequentar a minha casa. Como elas não sabem que não existem, não têm nenhum problema em compartilhar suas (possíveis) experiências mediúnicas.
Penso bastante nos meus queridos desencarnados. Me pergunto se é patológico, mas na verdade, a tristeza da perda, o luto em si, já passou. Sobrou uma saudade imensa, mas que não dói. Uma vontadezinha de estar junto com eles. Mas nada que me faça chorar (quase nunca). Quase sempre, ao contrário, me faz sorrir.
Eu sonho com eles, com bastante frequência. Acho que é também uma forma de convívio. Me acordo com a sensação de que realmente estivemos juntos. O último, anteontem, envolvia a Wó e meu tio, falecido poucos dias antes dela, vítima de um câncer. Muito vívido, o sonho. Ele me dizia sobre os erros que os médicos cometem ao tentarem usar a Classificação Internacional de Doenças.
- Médico não sabe classificar. Tá sempre com pressa, bota qualquer número. Tem que haver um técnico treinado para isso.
O tio era médico sanitarista, expert em classificação de doenças. Ouvi dele esse discurso muitas vezes em vida. No final da conversa, ele fez um comentário sobre o gramado da Arena do Grêmio (outra paixão dele). Muito atual, considerando que o estádio não estava pronto da última vez que veio a Porto Alegre, pouco antes de morrer. A Wó respondeu que ele tinha quer ter mais paciência, o verão estava seco e a grama estava recém plantada. E disse uma frase muito terrena que ela sempre usava:
- Calma e paciência!
Acordei do sonho com a nítida sensação de ter estado com eles. Muito nítida. De certa forma, eu realmente estive. Ao menos com minhas memórias inconscientes deles e meus desejos muito conscientes de que todos esses fantasmas ainda fossem de carne e osso. Ou então...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Menininhas

Finalmente, passadas todas as festas, a falta de internet do Palácio de Verão e o retorno à rotina do domicílio, consigo sentar e escrever. É um exercício, de verdade. E estou fora de forma. É difícil escrever quando faz tempo que a gente não escreve. Não flui. 

Notícias das menininhas: Luísa, articuladíssima, me fala sobre os diálogos que ela tem com seus personagens favoritos:
- Eu converso com o (Smurf) Gênio e o Papai Smurf. E a Mônica e o Cascão estão comendo agola. Esses personagens estão todos aqui na sala! O Mickey foi dormir, ele não está aqui.
Personagens! Com três anos, ela me dá explicações sobre personagens. Chego quase a enxergar smurfs do tamanho de três maçãs correndo no meio da sala, enquanto desviam de uma coelhada do Sansão no Cebolinha. Mais ou menos como Julie Andrews deve ter se sentido ao filmar a cena dos pinguins de Mary Poppins. Eles estão ali. Só eu que não consigo vê-los naquele momento. 

Joaninha, 17 meses, aprende umas cinco palavras novas por dia:
Au-au para os bichos implumes, cocó para os plumados;
Ali, diz ela quando perguntada sobre alguma coisa ou alguém fora do seu campo de visão, enquanto aponta com o dedinho;
Aqui, quando o objeto está à vista;
Sai;
Pé (quer dizer o próprio pé ou que quer descer do colo e ficar de pé);
Mão;
É meu;
Me dá;
Cô (quer dizer suco);
Cocô (ela avisa quando faz);
Xixi (ela não sabe bem o que é, mas sabe que tem alguma coisa a ver com fralda e pinico) 
Água, que pronuncia com perfeição;
Mais, uma da suas palavras preferidas, principalmente quando se trata de comer;
Bô (acabou);
Naná (dormir);
Mamá;
Mamãe e papai, também pronunciados perfeitamente;
Carro;
Fora todas as outras de que eu não me lembro.
No espaço de duas ou três semanas, ela começou a falar. E a cantar. A plenos pulmões. Esse negócio de não dormir estraga um pouco a experiência, mas duvido que haja qualquer situação mais fascinante do que ver um bebê completamente inútil (embora muito fofo) transformar-se em uma pessoa que fala, por exemplo, sobre personagens!
É lugar comum, mas o Vinícius tinha razão:
"(...) Que coisa louca, que coisa linda que os filhos são"