domingo, 15 de fevereiro de 2015

Bernard, o urso



O primeiro brinquedo de tricot a gente nunca esquece!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Virose?

Emergência pediátrica não muito cheia. Na chegada, a mãe de um garoto de oito ou dez anos queixa-se para outra:
- Estou correndo com esse guri desde sábado! A dor de barriga não passa. Trouxe de novo, mas nem sei pra quê, a doutora decerto vai dar uma injeção e dizer que é uma virose!
A outra, mãe de um bebê de uma semana de vida, trouxe a criança porque o doutor do posto ("um daqueles que a gente não entende o que diz") deixou-a em pânico, ao dizer que o nenezinho poderia ficar retardado se não curasse o "amarelão" com banho de luz.
Chamo o recém-nascido, examino-o, tranquilizo a mãe explicando que o risco de ficar retardado por causa da icterícia é mínimo. Solicito exames, mesmo se já imagino que provavelmente virão dentro do razoável para sua idade.
O próximo, o da suposta virose. A mãe repete a ladainha, atropela as palavras, faz caras e bocas dramáticas:
- Doutora, estou correndo com ele desde sábado (sendo hoje segunda-feira, quer dizer 48 horas de evolução...). Ele tem uma dor que dá e passa e daí dá de novo. - Mostra-me uma pilha de papeis amassados, os exames que o menino fizera na véspera, sem grandes alterações - E agora VO-MI-TOU o remédio, diz, frizando cada sílaba.
Examino o garoto na maca, tento comversar com ele, mas ele me olha com cara de pavor, sem articular palavra. Ausculto, palpo, aperto, solto, percuto. Não expressa qualquer reação de dor. Penso com meus botões: "mas vai que tem alguma coisa, a mãe diz que é intermitente..." Decido solicitar uma ecografia.
Cerca de meia hora depois aparece o menino trazendo o exame com o laudo. Leio-o, franzo a testa, olho para a mãe, peço licença. Entro em contato com o plantão cirúrgico, leio a parte que diz "trata-se de apendicite aguda de grau leve". Penso: ora bolas, leve ou não, o sujeito escreveu A-PEN-DI-CI-TE. Não há dúvida. Converso com a cirurgiã, que, após saber que a criança estava em jejum desde a véspera, solicita que sejam iniciados antibióticos e que suba para o bloco cirúrgico em 15 minutos.
Retorno ao consultório. Olho para a mãe. Sento e calmamente tento explicar que "trata-se de apendicite aguda de grau leve", e que tem que operar. Agora.
- Vai operar AGORA? E vai embora hoje mesmo?
Aos prantos, ela pergunta se eu tenho certeza que não é uma virose, se não dá para dar uma injeção e ver se passa.
- Não, senhora, não podemos dar uma injeção e ver se passa. É apendicite. Por isso seu menino está com dor. Descobrimos a causa da dor. E agora vamos tratar. Não vai embora hoje, não tem previsão de alta. E, definitivamente, isto não é uma virose!
Entre a abertura do boletim de atendimento e a chegada na sala de recuperação passaram-se cerca de duas horas. E dizem que o SUS é ineficiente!