terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Fantasmas

Minha vidinha privada sofreu reviravoltas nos últimos meses. Primeiro troquei de empregador (mas não de emprego), depois troquei de emprego. Agora, estou prestes a trocar de casa. Estou comprando a casa ancestral da família. Ancestral desde 1942. Levei as meninas para vê-la:
 -Mas, mamy, é a casa da Bisa! Nós vamos morar na casa da Bisa? Essa casa nova é bem velha, né?
Não imaginei que ela fosse lembrar. Fazia mais de um ano que não ia lá. Expliquei a ela que a Bisa estava no céu, que não precisava mais da casa.
- O papai e a mamãe vão comprar essa casa e trazer todas as nossas coisas para cá - disse a ela.
-  Mas a Bisa não está no céu, porque ela foi no meu quarto ontem.
Senti um arrepio. Ontem é um conceito amplo para a Luísa, quer dizer qualquer momento passado. Fiquei a imaginar se ela sonhou com a Bisa ou se realmente a avistou. Não sei no que acredito, mas não desacredito mais nada. Disse à minha filha que a Bisa poderia ir no quarto dela, sem problemas, mas que ela iria dormir no céu. Contei que eu achava que ela iria ficar feliz de a gente ir morar na casa que foi dela e do Biso.
Após este pequeno colóquio, ficou brincando um pouco no pátio e imaginando de que cor vamos pintar a parede do quarto novo.
O outro arrepio me veio quando Joana, que tinha dois meses quando a Wó se foi, apontou efusivamente para o porta-retrato de cima do piano:
- Bi, bi, bi - ela mostrava a foto da Bisa.
Eu nunca mostrei a ela as fotos de cima do piano. Nunca nomeei aquelas pessoas. Em seguida, ela apontou para a foto do meu pai e disse:
- O vovô? O vovô?
- Sim, Joana, é o vovô Gabriel e a Bisa.
Fantasmas adoráveis que parecem frequentar a minha casa. Como elas não sabem que não existem, não têm nenhum problema em compartilhar suas (possíveis) experiências mediúnicas.
Penso bastante nos meus queridos desencarnados. Me pergunto se é patológico, mas na verdade, a tristeza da perda, o luto em si, já passou. Sobrou uma saudade imensa, mas que não dói. Uma vontadezinha de estar junto com eles. Mas nada que me faça chorar (quase nunca). Quase sempre, ao contrário, me faz sorrir.
Eu sonho com eles, com bastante frequência. Acho que é também uma forma de convívio. Me acordo com a sensação de que realmente estivemos juntos. O último, anteontem, envolvia a Wó e meu tio, falecido poucos dias antes dela, vítima de um câncer. Muito vívido, o sonho. Ele me dizia sobre os erros que os médicos cometem ao tentarem usar a Classificação Internacional de Doenças.
- Médico não sabe classificar. Tá sempre com pressa, bota qualquer número. Tem que haver um técnico treinado para isso.
O tio era médico sanitarista, expert em classificação de doenças. Ouvi dele esse discurso muitas vezes em vida. No final da conversa, ele fez um comentário sobre o gramado da Arena do Grêmio (outra paixão dele). Muito atual, considerando que o estádio não estava pronto da última vez que veio a Porto Alegre, pouco antes de morrer. A Wó respondeu que ele tinha quer ter mais paciência, o verão estava seco e a grama estava recém plantada. E disse uma frase muito terrena que ela sempre usava:
- Calma e paciência!
Acordei do sonho com a nítida sensação de ter estado com eles. Muito nítida. De certa forma, eu realmente estive. Ao menos com minhas memórias inconscientes deles e meus desejos muito conscientes de que todos esses fantasmas ainda fossem de carne e osso. Ou então...

4 comentários:

  1. Adorei esse post. Também não sei se as pessoas continuam aparecendo por aí ou não depois que morrem. Mas elas com certeza continuam vivendo na nossa memória. Acho que temos muito mais informação sobre elas nas nossas cabeças do que nos damos conta, e as coisas vão aparecendo e acontecendo nos sonhos, ou durante o dia mesmo.

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  2. Também adorei!
    Mas, eu tenho certeza absoluta de que as pessoas que já morreram, nos visitam de vez em quando, rsrsrsrs
    beijo
    p.s. a casa que estás comprando é a da família Becker? Fiquei em dúvida.

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  3. Eu vi o Nemo no Oceanário de Lisboa!!!

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