domingo, 5 de agosto de 2012

Panis et Circensis

Fui ao circo na semana passada. É bem verdade que muita gente considera o Cirque de Soleil um espetáculo à parte, algo que supera o circo em si, daquela imagem que temos do inconsciente coletivo, com leão, cachorrinhos adestrados, palhaço e trapezista. O circo da música que a Nara Leão cantava é diferente do Cirque du Soleil. E certamente mais barato. O caso não é esse. Quem inventou o Cirque du Soleil, lá no Canadá, inventou mesmo um conceito totalmente diferente do imaginário popular do circo do filme do Dumbo. Mas, ao fim e ao cabo, é um circo. Com palhaço, trapezista, malabarista, equilibrista, famílias com crianças que fazem parte do espetáculo. Só não tem mais os bichos,  felizmente. Porque sempre achei o negócio dos bichos uma tragédia. Para que bicho, se a gente pode se vestir de bicho? E a gente não precisa dormir numa jaula. Eu sei, o negócio dos bichos já vem lá da Roma antiga, do coliseu, passando pela Europa medieval, quando tinha urso a dançar valsa e tudo o mais. Mas o Cirque du Soleil elevou tudo isso a um novo patamar. Lugar comum, o que eu vou escrever, vale cada centavo da fortuna que paguei pelo ingresso. Valeu toda a gincana para conciliar o vôlei do marido (eles jogam vôlei nas quintas de noite, dia de ir ao circo), plantões, crianças, equipe de apoio para cuidar delas, etc. Valeu cada segundo em que eu estava dentro daquela tenda mágica azul e amarela, com um universo paralelo que aconteceu durante duas horas. No final, enquanto dirigia para casa, depois de deixar minha tia, companheira de ir ao circo, fiquei a pensar que existem pessoas cuja profissão é produzir beleza. Há engenheiros, médicos, professores, caixas de supermercado, juízes, advogados, operadores de tele-marketing e jornalistas. Há lixeiros, arquitetas, empregadas domésticas, enfermeiras, dentistas, filósofos, comerciantes, bancarios, assistentes sociais. Todos e todos os outros que não citei ocupam-se de coisas úteis e fundamentais para o bom funcionamento da sociedade (com exceção do tele-marketing,  que não serve para nada, embora seja um emprego honesto). Mas quem bola um espetáculo como o Varekai é alguém cuja ocupação principal é produzir e mostrar o que é lindo. Alguém que pensa em como fazer o espectador virar um colibri lá pelas tantas do espetáculo. Sei que o caminho para se chegar ao belo absoluto não é belo. Bailarinas, bem como poetas, músicos e outros artistas, também dedicam-se a produzir o belo. Pé de bailarina sem sapatilha de ponta não é belo. É feio, fedorento e doente. É o preço que se paga. O nascimento da borboleta é sempre sofrido. Mas a borboleta é linda. O Cirque du Soleil é lindo. E eu virei um colibri. O estado de êxtase não passou bem. Comprei programa para saborear as páginas e lembrar devagarinho de cada pedaço de magia. O YouTube ajuda também. 


Falar em lindo, achei um livro gracinha na livraria, dia desses. Chama A Caligrafia da Dona Sofia. É sobre uma professora aposentada que escreve com sua linda letra trechos de versos que ela ama por toda a sua casinha, pelas paredes, por tudo. Ela acha que os versos precisam ficar à mostra para serem lidos. Dentro dos livros, correm o risco de serem esquecidos. Um livro infantil escrito por um sujeito chamado André Neves.  Merece ser lido e pendurado na parede. Por adultos e crianças.

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