quinta-feira, 5 de abril de 2012

O Brasil está ficando chique. Em outros países, mais avançados, é comum as pessoas da classe trabalhadora ter empregos "braçais" para pagar a faculdade. No Brasil, no entanto, o mais comum é serem os universitários de famílias privilegiadas, sustentados pela família durante o curso. No máximo, arrumam um estágio remunerado na área. Trabalhador trabalha e não estuda.
Mas o país avança. Ontem, quando o encanador foi fechar a parede da minha sala, me disse:
- Depois eu faço o orçamento dos outros serviços, pois tenho que me aprontar para ir à faculdade.
Não contive a curiosidade e perguntei o que ele cursava, imaginando engenharia ou arquitetura. Não. O moço cursa psicologia. Achei genial. Um encandor que estuda psicologia. Extremamente desenvolvido da nossa parte. Contou-me que vem de uma família de pedreiros, o pai e o irmão mais velho também trabalham na área. Tem curso técnico de eletricista e encanador. O resto, foi aprendendo com o pai. Mas sempre quis estudar psicologia ou serviço social. Nos últimos anos, os serviços ficaram mais caros, com a expansão da contrução civil. Começou a economizar, alugou um apartamento no centro e consegue pagar o curso noturno de psicologia. Vindo de escola pública, é difícil passar na Universidade Federal.
Um paradoxo, não? Famílias com mais dinheiro pagam uma quantia razoável pela educação inicial dos filhos e, se estes souberem aproveitar, estarão mais equipados para passar na Federal. Jovens de baixa renda, que só conseguem estudar em escolas públicas e precárias, precisam eles mesmos fazer o esforço para pagar faculdades caras e, muitas vezes, precárias.
Mas há esperança. Ronaldo será psicólogo. E seus filhos, possivelmente, terão acesso a uma educação de melhor qualidade.
Mas o avanço virá mesmo quando os filhos do Ronaldo, assim como as minhas filhas e os de todos os outros puderem estudar em uma mesma escola pública. Porque ela será tão boa ou melhor que as particulares. E as pessoas optarão por escolas particulares por motivos religiosos ou de cunho ideológico. Não por questões de qualidade.
E agora, bato meus calcanhares três vezes e volto para o Brasil. Enquanto economizo cada centavo para pagar a futura escola particular das minhas filhas.

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