domingo, 15 de abril de 2012

Evento

Então, fomos a um evento a sós, sem crianças, pela primeira vez em oito meses. Tudo muito bom, a comida, a conversa, os amigos. Mas isso seria assunto para uma postagem muito chata. Muito mais divertido analizar a festa de 15 anos que acontecia no salão ao lado.
Umas três pessoas da nossa mesa foram ao toillette e voltaram horrorizadas com os trajes (ou a falta deles) das mocinhas da festa. Confesso que, quando fui, havia duas meninas muito maquiadas, com um salto bem alto e vestido curto, mas adequado. Mostravam as pernas, nada de mais. Os outros relatos, no entanto, falavam daquele conjunto de blusinha tomara-que-caia e sainha tomara-que-suba.
- Praticamente um cinto largo - dizia uma horrorizada - Uma coisa tão apertada que não dá pra respirar e tão curta que não dá para sentar.
- Como é que os pais deixam sair de casa assim - questionava outra.
- Graças a Deus só tenho filhos homens - respirava aliviada uma terceira.
Ocorreu-me lembrar àquelas caras e provectas senhoras, respeitáveis mães de famílias e com bons empregos estáves, que nos conhecemos do outro carnaval. Há 20 carnavais, para ser mais exata. E que há 20 anos, acho que nossas saias eram bem curtas. E recordo-me de ao menos uma de nós que saía de casa vestida praticamente como uma freira. E com o vestidinho tomara-que-me-comam (com o perdão do termo chulo) dentro da sacola, para o pai não ver.
Comecei a lembrá-las de tudo o que nós fazíamos antes de sermos mamães. Coisas que minha mãe até hoje acho que não sabe. E que eu espero nunca ficar sabendo sobre as minhas filhas, em um futuro breve. Nada que nossos pais e quaisquer outros adolescentes saudáveis também nunca tenham feito. Sem o consentimento dos genitores, lógico. Com raras excessões trágicas, estamos todas aqui para nos horrorizarmos com a geração seguinte.
Na segunda ida ao toillette, deparei-me com a tal sainha tomara-que-suba. É verdade, curta demais, mesmo para que tem 15 anos, supondo-se que a calcinha da moça deva ficar embaixo da saia, e não abaixo dela. Obviamente já haviam consumido uma quantidade considerável de álcool, aos 15 ou 16 anos. Mas isso faz parte da cultura geral do país, que inventa leis que jamais serão cumpridas. E nada que não tenha havido nos 15 anos da minha avó.
Mais divertido do que a celeuma da (falta de) roupa das meninas, no entanto, foi a diferença entre os meninos e elas. Elas, saia curta ou não, parecem mulheres (não me admira aparecerem grávidas aos 13 ou 14, não importa a classe social) Os meninos, ao contrário, parecem ter 12 anos. Os paletós com a manga comprida demais, a calça meio caindo e que arrasta no chão. A camisa para fora da calça, mesmo no início da festa e mesmo de gravata. E, com uma ou duas excessões, todos de tênis. Isso, de tênis de corrida verde-limão logo abaixo da calça social, da camisa e da gravata. Os cabelos dividem-se em franja grande em cima dos olhos ou moicanos, à moda Neymar. Sentados em um banco chupando pirulito (literalmente). As colegas, vestidas para matar, maquiadíssimas, tudo sob controle. E os gurizinhos sentadinhos a brincar com o celular ou algum Nintendo portátil, com o pirulito na boca. É evidente que elas engravidam dos meninos do terceiro ano.
Não acho que a juventude esteja perdida, quer dizer, não mais do que sempre teve. Não gosto deste discurso fatalista de que tudo está cada vez pior e o apocalipse se avizinha. Foi muito divertido analizar a adolescência dos tempos modernos. Ando muito focada na faze bebê/pré-escola dos tempos modernos. Pode ser que eu me engane, mas desde que eu consiga manter algum tipo de diálogo com as minhas filhas, todas sobreviveremos. Elas, em algum momento, vão sentir muita vergonha de mim. E eu, em algum momento, vou sentir muito orgulho delas. Ou não.

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