terça-feira, 11 de outubro de 2016

Gotinha de Esperança

Então no início da semana, alguma coisa realmente milagrosa aconteceu. Lembram do curumin da última postagem? Pois continua lá, cada vez mais gordinho, agora a sorrir mais do que a chorar. Tenta agarrar as coisas, olha fixo nos olhos de quem brinca e cuida dele. E a mãe notou. E o pai também. Do jeito deles. Disseram que querem levar o moleque pra casa. Com tubo de plástico no nariz, artificial e tudo. E que não vão arrancar quando chegar na tribo.
Estão com medo. Medo de não saberem cuidar da alimentação da criança, medo de que os outros não aceitem sua família. Talvez tenham medo até mesmo de Tupã. Mas eles viram o menino sair do seu estado de desnutrição profunda, sem conseguir nem mesmo sorrir direito. Eles viram a mágica que aconteceu no seu olhinho de curumim, que começou a ficar curioso. E acho que começaram a se apaixonar pelo próprio filho. E então, de repente, a opinião do cacique já não tinha tanta importância. Nem a do antropólogo e nem qualquer outra. Pra falar a verdade, nem a nossa opinião. O que ganhou importância foi o olhar do curumim.
Não se enganem, o acampamento continua miserável, as pessoas ignorantes, os outros filhos continuam negligenciados. Não é um milagre do tipo que canoniza santo. Esses são com fequência fraudulentos. O meu milagrezinho é pequeno. É discreto. E pode desandar a qualquer momento. Mas é real. O meu milagre se operou no nível interior dos pais do piá. Tomara que consiga transbordar para o exterior. Salve Tupã, que inspirou os pais a olhar para o menino. E vida longa ao curumim.

Um comentário:

  1. Oi Bel!
    Feliz com a tua volta. Saúde para o curumim. Saúde pra nós.
    Que Tupã continue te inspirando...bjs

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