quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fotos Antigas

Achei, dia desses, uma caixa de fotos antigas dos meus avós paternos. Por contingêcias da vida, não convivi tanto com eles como gostaria. Sei bem menos sobre suas histórias do que acho que deveria saber. Então, encontrar todas aquelas fotos foi ótimo. Descobri coisas fascinantes. A maioria das fotos se localiza no tempo entre 1923 e 1941. Já sabia que o vô, antes de ser médico (ele era pediatra), havia sido do exército. Mas não sabia que ele tinha ido ao Rio de Janeiro no trem do Getúlio Vargas em 1930 para amarrar os cavalinhos no obelisco, na Revolução. Tampouco sabia que ele havia lutado na campanha de 1932, em São Paulo. Há uma foto dele de barba, com cara de cansado, com a farda meio esfarrapada. Cara de veterano de batalha. Ele era oficial e aparece fardado em quase todas as fotos desta época. Gostava de fotografar. E ambos adoravam viajar. Há dezenas de fotos dos dois, individualmente e como um casal, em viagens. Foram por todo o interior, a Buenos Aires, adoravam o Rio de Janeiro. Fotos certamente históricas de todas essas cidades. Inclusive de Santa Maria, cidade onde ambos moravam e onde casaram e tiveram os filhos.
Mas o fascinante destas fotografias é que elas são, na maioria, fotos deles solteiros, antes dos filhos. Ao contrário de grande parte dos jovens da época, meus avós casaram-se tarde. Já passavam dos 30 anos. Além disso, a vó era mais velha que o vô. Isso, aparentemente, era um grande problema, pois ela fez uma mutreta no seu registro civil e rejuveneceu uns 3 anos. E o vô já havia envelhecido um ano, pois desejava ingressar no exército logo. Ela trabalhava em uma loja. Há um registro desta loja, com todas as funcionárias atrás do balcão, arrumadas e sorridentes. A vó entre elas. Parecia artista de cinema, de tão lindinha.
Eles tivera um longo período de juventude solteira, com muitos passeios, muitas fotos alegres em pracinhas, na saída da missa e durante o "footing" do final de tarde, com algumas "girls", segundo as legendas que o vô escrevia nas fotos. Várias fotos de lambe-lambe, o vô de farda e a vó com aqueles vestidinhos que elas usavam nos anos 1930. Sempre arrumadinhos. Os cabelos, as roupas, os chapéus. Ninguém saía na rua com coisas casuais, como calça jeans e camiseta. Era roupinha ajeitada, fatiota, sapato social, bolsinha e chapéu.
Na mesma caixa, havia o convite para a formatura do vô. Ele se formou na mesma faculdade de medicina onde eu estudaria e concluiria o curso exatamente 61 anos depois. Fiquei com uma nostalgia doída, uma coisa apertada, de não poder compartilhar com ele as idas e vindas da medicina e da pediatria em todos esses anos. Fiquei a ver os registros da ATM 1941 e a pensar em todos os lugares que ele andou e que eu também andei, seis décadas depois. Olhei as minhas fotos da ATM 2002/2. Incríveis semelhanças entre jovens futuros médicos das décadas de 1930 e 1990. Algumas diferenças, como o número de mulheres. Mas aquelas fotos de escadaria, todos de jaleco branco, são absurdamente iguais. Os olhares confiantes de quem iria mudar o mundo e salvar vidas todos os dias.
Agora, na véspera do dia do médico, estou em casa, guardada por Deus contando o vil metal. E salvando vidas. Mas sem o heroísmo e sem todo aquele glamour da época do footing e das girls.

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