sábado, 29 de outubro de 2011

Seleta

A Seleta era um livro que tinha lá na Wó. Chamava-se Seleta em Prosa e Verso. Um dia a Wó me explicou que o vô tinha aquele livro, uma edição mais antiga, quando criança em casa. Era uma época em que livros eram muito caros. E a Seleta era uma compilação de textos históricos, religiosos, sobre moral, contos, fábulas e poesias do final do século XIX e início do século XX. Confesso que nunca dei muita bola para a parte da prosa. Adorava as poesias. Extremamente parnasiano, com milhares de sonetos:

“Vai-se a primeira pomba despertada.
Vai-se outra mais... mais outra... e enfim dezenas
de pombas vão-se em revoada apenas
raia sanguínea e fresca a madrugada” (...)

Tinha também o do Tertuliano, que eu declamei em um concurso de poesia na oitava série (não ganhei nada, lógico, nunca tive talento para isso...). E tinha “Meus Oito Anos”. Acho que era a minha preferida. Acho que eu tinha oito anos quando descobri o livro.
Havia milhares de livros lá na Wó. Era uma casa forrada de livros. Tem até alguns mistérios de livros que sumiram. Já desenvolvi teorias mirabolantes sobre os sumiços, mas provavelmente alguém simplesmente pegou um livro que não lhe pertencia e sumiu com ele...
Sumiu o Livrão, que era um livro de capa dura vermelha, enorme de grande, com histórias infantis maravilhosas e ilustrações divinas. Todas as histórias começavam e terminavam com um versinho. A Wó contava uma história daquelas quando a gente dormia lá. E a gente sempre queria ouvir mais uma. Então, ela lia o versinho da próxima. Tinha uma história que eu adorava, que eu nunca mais achei, que era de três cachorros com olhos enormes, do tamanho de um pires, de um prato e não me lembro mais de que tamanho eram os olhos maiores. Também não me lembro de grande coisa da história, só da ilustração de um dos cachorros. Me lembro das ilustrações da Rapunzel e de como eu chorei na primeira vez que eu li sozinha a parte em que o príncipe fica cego...
Outro que sumiu é o do Quebra-Nozes, do Alexandre Dumas, para o desespero da minha prima Lolô, que amava aquele livro. Está esgotado em português, só existe em francês ou inglês pela Amazon. Já virei os sebos da cidade atrás de uma tradução, mas nunca encontrei
E por fim, a Wó tinha uma coleção de quatro livros encadernados dos quatro reinos da Disney (aventura, alegria, fantasia e natureza). Um deles sumiu, não sei se o da alegria ou da fantasia. Também procuro pela coleção em sebos, mas até agora, nada. Eles vinham dentro de uma caixa bacana. Acho que gastei as páginas daqueles livros, de tanto que li e reli. Gostava de ler o Dumbo e uma outra história sobre um menino que ia para o circo.
É época de Feira do Livro. Em 2008, no início da gravidez da Luísa, fui à Feira com a Wó. Caminhamos um pouquinho, sentamos no café do Margs, e a Wó comeu uma linda panqueca doce com sorvete. Acho que foi a última vez que ela foi na Feira “ao vivo”. Depois, ela encomendava livros dos outros, acompanhando de longe. Quem sabe este ano dou sorte e encontro algum dos livros perdidos em um balaio daqueles...


3 comentários:

  1. Eu estou adorando o blog! Mas tira as propagandas, vai...
    Beijos da tia Pipa.

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  2. Elas aparecem, não sei como tirar. Alguma sugestão?

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  3. Isabel, achei o "Quebra-nozes" aqui: http://www.estantevirtual.com.br/mod_perl/busca.cgi?alvo=autor&pchave=dumas&orderby=menor_preco&memoria_queries=autor+ou+titulo+1v1+%252Bquebra%252
    Também li muito a Seleta, que era do meu avô.A minha poesia preferida era Deus, do Casimiro de Abreu que eu também sabia de cor!
    Quanto às propagandas, vai mas configurações/ gerar receita
    Beijo

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