quarta-feira, 16 de maio de 2012

Viagem

Aviso aos navegantes: esta é uma postagem tristonha. E meio surreal. Não sei se fará sentido para alguém além de mim. Não sei se é só insônia (Joaninha...), mas ando melancólica. Fui ao supermercado ontem e, por sorte minha, quando estou assim, quase não compro nada. Só a lista. Os gastos extras seriam meus objetos de conforto. Pode parecer muito estranho, mas há objetos que me acalmam. Já dizia o Zeca Baleiro, "tristeza não é pecado, lugar de ser feliz não é supermercado". Não é mesmo. Não estava feliz. Chorava aquele choro pateta de quem não sabe bem por que chora. Queria usar óculos escuros, mas não enxergava direito. Se os olhos são as janelas da alma, os óculos escuros são o insulfilm. Dão privacidade para eu continuar a passar com a minha dor.

Procurei minha manteiga Aviação de lata. Só tinha tablete. Do que adianta a manteiga Aviação de tablete? A lata é fundamental. A lata de manteiga é meu elo perdido. Tablete não funciona. Próximo passo, balas Azedinhas. Estas eu achei. Balas Azedinhas são quase tão efetivas como a manteiga de lata. Acalmei minha melancolia com o pacotinho de balas da mesma maneira que a criança pequena acalma-se com seu paninho preferido.

Terminadas as compras, passei na livraria (erro fatal em dia de tristeza) e me deixei perder entre as estantes. Peguei um livro bonito e caro demais para ser comprado em um impulso e pus-me a folheá-lo enquanto saboreava meu cafezinho. Acho que solidão também não devia ser pecado. Precisava ficar comigo mesma. Não queria encontrar ninguém. Depois, voltei para casa e para a companhia de todos. Ainda não estava bem boa (ainda não estou). Brinquei com as filhas, dei banho, arrumei-as e coloquei-as na cama. A tristeza ronda minha sala. Já chorei mais um pouco e agora escrevo enquanto ouço a voz da Maysa, que canta Viagem, de João de Aquino e Paulo César Pinheiro. Daqui a pouco passa. A vantagem da melancolia é que a poesia brota dos dedos como se fosse algo natural para mim escrevê-la. Um dia crio coragem e publico no blog.
Enquanto a coragem não chega, compartilho um soneto de uma mulher que viveu em outro continente e em outra época, mas que hoje faz muito sentido para mim

(Marquesa de Alorna - 1750-1839)

Retratar a tristeza em vão procura
quem na vida um só pesar não sente,
porque sempre vestígios de contente
hão de surgir por baixo da pintura;

porém eu, infeliz, que a desventura
o mínimo prazer me não consente,
em dizendo o que sinto, a mim somente
parece que compete esta figura.

Sinto o bárbaro efeito das mudanças,
dos pesares o mais cruel pesar,
sinto do que perdi tristes lembranças;

condenam-se a chorar, e a não chorar,
sinto a perda total das esperanças,
e sinto-me morrer sem acabar.





E à demain, que eu sigo em frente

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