sábado, 28 de janeiro de 2012

Carnaval

Enquanto escrevo esta postagem, escuto da minha janela do nono andar uma bandinha tocar marchinhas de carnaval. Estão na frente de um boteco na Rua da República. Muito engraçado, agora eles estão tocando música gaudéria em ritmo de marchinha de carnaval. É um trompete e meia-dúzia de tambores, não tem microfone. Às vezes dá para escutar o povo cantando junto. Passei mais cedo com a Luísa na frente do boteco, no caminho do supermercado. Estavam tocando um sambinha. Um monte de sotaques diferentes em volta, em função do Fórum Social Temático, que ocorre em Porto Alegre e arredores. Os gringos adoraram a batucada. Todos sambando com aquela falta de ginga própria de todos os americanos e europeus. Um grupo que parecia ser de africanos dançava feliz, esses com (muito) mais ginga que os gaúchos. Quando chegamos em casa, a Luísa falou:
- Papai, hoje eu fui no carnval com a mamãe.
E, enquanto escutava a música pela janela, saiu a "sambar" pela sala. Que bom, acho que a Luísa gosta de samba.
Enquanto ouço a melodia de Peguei um Ita no Norte, de Dorival Caymmi, sinto uma saudade doída do meu avô. Um senhor respeitável, advogado, professor de processo civil e de religião. Adorava samba. Dizia que nada era melhor de dançar do que um bom samba bem tocado. E ele gostava muito desta música, do Ita no Norte. Sentava-se ao piano e tocava, com muitos floreios, de ouvido.
Gosto dessas bandinhas que começam a pipocar pelo bairro quando chega perto do carnaval. Há várias delas por aqui. E no sábado anterior ao carnaval, fecham a minha rua (que não tem muita utilidade para o trânsito) e fazem um grande carnaval de rua. Me dá uma sensação boa de pertencer a uma cultura e a uma comunidade. Ouço alguns vizinho que reclamam do barulho. Confesso que esse barulho pouco me incomoda. Talvez porque eu realmente goste das músicas e também porque até hoje eles nunca foram muito além das dez da noite. Agora tocam Cielito Lindo, provavelmente já encerrando a apresentação de hoje (esta bandinha sempre encerra com Cielito Lindo)
***
Não me lembro se já escrevi sobre isso aqui, mas às vezes tenho a impressão que Nelson Rodrigues não sabia de nada, era uma alma cândida e inocente. Nada do que ele escreveu compara-se à realidade do que atendemos diariamente. Sexta-feira foi um desses dias "a vida como ela é". Uma sucessão de casos bizarros e trágicos, como uma moça virgem de 26 anos que sofre de ataques de histeria que parecem saídos de um tratado do Freud. A gente quase não encontra moças virgens de mais de 15 anos, que dirá 26. A sucessão de horrores que se seguiu é impublicável e de extremo mau-gosto. Quando o dia finalmente acabou, me abracei na enfermeira e quase começamos a chorar. Mas sorrimos. A tarde fora de tal forma bizarra, que só podíamos rir. Já tínhamos passado do ponto do choro.

Um comentário:

  1. Ai que saudade do carnaval... Amo esse blog! E a autora também. Beijos mis.

    ResponderExcluir