Hoje atendi um senhor gago. Senhor de meia idade, bem apessoado. Casado, três filhos e dois netos. Taxista há quase 30 anos. E gago. Além de gago, meio fanho. O rei George VI era gago, sua história foi recentemente filmada em Hollywood. Era gago, mas não era fanho. Os gagos podem ser muito bem sucedidos. E podem ter o seu charme. Um exercício de auto-controle, não terminar as frases do paciente gago.
Na verdade, a gagueira sequer foi abordada na consulta, cujo motivo foi uma dor nas costas. Tenho certeza que ele aprendeu a lidar com o problema ao longo dos seus 50 anos de vida. Eu é que não aprendi a lidar com alguns pacientes com dificuldade de comunicação. Até acho que a consulta correu bem, segurado saiu satisfeito com a prescrição de analgésicos e fisioterapia. Mas eu estava exausta. Quase como atender em outra língua, com o esforço para entender o que ele dizia, quando finalmente conseguia concluir o pensamento. E o fato de ser fanho não facilitou muito. Ainda assim, um senhor afável e de bem com a vida. Já pensou tudo o que sofreu na escola, quando era guri? E isso que nem se chamava Bullying naquela época.
Em sua homenagem, publico essa postagem e uma musiquinha do Noel Rosa (sempre o Noel), que eu acho muito engraçadinha e na qual pensei o dia inteiro, após ter atendido o gago.
E à demain, que eu sigo em frente
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