sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Escrevo hoje diretamente do "Palácio de Verão", em Osório. Compromissos inadiáveis mantiveram-se afastada deste blog (por exemplo, dormir e ir à piscina) por alguns dias.
Ontem, conversando com a minha mãe, ela me atualizou sobre os tesouros encontrados entre os alfarrábios do vô Berto. Ele guardou por toda a vida toda a sua correspondência. Tudo deve ser interessante mas, sem dúvida, a parte da correspondência pré e pós Segunda Guerra com os parentes da Alemanha são um capítulo à parte. Preciso desesperadamente aprender alemão (gótico) para poder ler tudo aquilo.
Ela imaginou um filme. Para mim, é como ler um livro. Um dia, crio coragem e escrevo um. Uma das cartas mais intrigantes é a de um major do exército alemão, parente nosso, que escreveu para tentar localizar a sua família. Ele foi levado no final da guerra para um campo de prisioneiros em Nova York. Sua família, mulher e filhos, ficou na Alemanha, e ele não tinha nenhum tipo de notícia deles. Certamente tentou escrever para eles, mas não obteve sucesso. Fico a imaginar o major, no seu beliche no campo em Nova York, matutando uma maneira de saber notícias da família. De repente, lembra-se de uma visita que recebera anos antes, antes do início da Guerra: uns parentes que haviam imigrado para o Brasil estavam de passagem pela Europa e aproveitaram para visitá-los. Um deles dera-se bem: era o arcebispo de uma cidade brasileira de que nunca tinha ouvido falar, chamada Porto Alegre. E se ele escrevesse para o arcebispo? Não sabia o endereço, mas preencheu o formulário do campo de prisioneiros nos Estados Unidos e o endereçou ao Arcebispo D. João Becker, Porto Alegre, Brasil. Não sabemos quanto tempo demorou, mas a carta chegou e, aparentemente, pedia que fizesse contato com sua esposa. Não conheço o conteúdo da carta, mas parece-me que o contato realmente foi feito pelo vô Berto, que mandou notícias para o campo americano.
Quem poderia imaginar que, em 1945, um prisioneiro almão de guerra, nos Estados Unidos, conseguiria notícias da família através de um parente distante cujo pai, anos antes, imigrara para o Brasil. E que fora, com o seu tio arcebispo, à Alemanha em 1938 e aproveitara para visitar os parentes que não haviam imigrado. E falam hoje em globalização.

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