terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A Mão

Fico um pouco assustada com a falta de capacidade que as pessoas têm de resolver seus próprios problemas. Parece que, de uma hora para outra, tudo virou problema médico. Dia desses, entrou no posto um cidadão que queria atendimento por causa de uma cãibra na batata da perna. Cãibra! Deslocou-se da sua residência até o posto de saúde, esperou na fila com um calor de 35 graus e solicitou uma consulta porque estava com cãibra. Tudo isso me explicou a enfermeira, quando perguntei por que ela estava alongando o pé e a perna no meio da sala de espera, enquanto conversava com um paciente. Outra vez, no meio do inverno, com dúzias de pessoas realmente doentes e tossindo por todo o posto, apareceu um com o lábio rachado. Ou então a criança de 4 anos que atendi em uma madrugada de plantão com o joelho ralado. Chegou ao hospital com o ferimento ainda com terra, sequer tinham lavado. 
Acho genial a tal da acessibilidade universal. Mas para tudo há um limite. Essas pessoas não tiveram vó? Comentamos no posto, após o atendimento do segurado com cãibra, que este é um tipo de conhecimento universal que cabe às avós repassarem aos netos. Pertencem à mesma classe do chá de camomila para acalmar os nervos, chá de malva para a garganta, manteiga de cacau para não rachar o lábio e comer banana para evitar cãibras. Se funcionam ou não, não vem ao caso. O que importa é que as pessoas em determinada época faziam alguma coisa em casa antes de correrem ao médico. Lavavam o machucado na torneira, pintavam com mercúrio-cromo e botavam um Band-Aid. E aí, davam um beijinho e diziam:
- Quando casar, sara.
E a criança considerava-se curada, saía correndo e ia tratar de ralar o outro joelho. 
Talvez muito sintomática é uma propaganda do governo que eu considerei verdadeiramente apavorante, onde uma mão gigantesca coloca livros nas mãos das pessoas, abre o portão da escola para as crianças e joga uma bola para os jovens jogarem, com o slogam: "O Brasil está em boas mão, as mãos do povo brasileiro". Não é o que diz a imagem. O Brasil está nas mãos do governo. Se o governo coloca um livro na minha mão, é porque o governo escolheu o livro. E não eu. Eu me sentiria muito melhor se o espírito fosse "abra suas próprias portas, tome as rédeas do seu destino". O Estado deve prover saúde, educação, segurança, etc. Mas também cabe a cada cidadão buscar as soluções para a sua própria vida. E para os problemas do país. E não correr para o posto por causa de uma cãibra.

Um comentário:

  1. Big brother! Um amigo meu que mora em Londres comemorou quando o governo britânico resolveu obrigar as boates a oferecerem uma sala de descanso e água de graça para as pessoas. Eu disse pra ele que governo não é babá de marmanjo. E nem vó de marmanjo. Mas o que tu sabes é que isso é mais necessidade de atenção que qualquer outra coisa. Provavelmente não tiveram vó mesmo, talvez não tenham tido pai, sei lá. Coitados.

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