terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Já devo ter escrito sobre isso, mas há algo fascinante na maneira como a criança brinca. É algo totalmente espontâneo e acontece com o tempo. Primeiro, eles agarram qualquer objeto e metem-no na boca. Logo, começam a chacoalhar e explorar o brinquedo. Geralmente há risadas quando há interação com outra pessoa, normalmente o adulto. Próximo ao segundo aniversário, a mágica acontece. A brincadeira deixa de ser puramente exploração e vira fantasia. E começam a brincar sozinhos. A boneca vira uma pessoa, os pratinhos e panelinhas enchem-se de "comidinha", todos os bichos e bonecas vão "nanar".
Mas o fascínio maior para mim é quando um objeto aleatório ganha vida e se transforma.
Ontem, minha filha de 2 anos e meio estava começando a ficar entediada com seus brinquedos "convencionais", todos espalhados pela sala. Então, ela avistou um enorme saco de pano cor-de-laranja. Ninguém propôs nada a ela. Sua tia tocava piano e eu amamentava a irmãzinha. Ninguém lhe estava dando grande atenção. Ela decidiu que o pano era um carro. Esticou-o no chão, sentou-se em cima e andou no carro. Depois, virou uma moto. Mudou a posição das pernas e "montou" na moto no chão da sala. O pano virou vestido, roupa de bailarina, piscina e até um piano! Tudo narrado em alto e bom som:
- Agora eu tô na piscina - enquanto rolava-se em cima do saco de tecido.
- Olha, eu vou tocar aqui no meu piano - e tamborilava os dedos como se tocasse junto com a tia.
A brincadeira durou cerca de 45 minutos. E o pano não "sabe" fazer nada. Não há botões para apertar nem luzes a piscar e nem tem uma etiqueta escrito "made in china". Também não fala nenhuma frase e tampouco move-se sozinho. É somente um pano.
Mais tarde, quando ela já tinha dormido, enquanto juntava os brinquedos da sala (aqueles com botões, música e luzinhas, escrito fisher-price na etiqueta), filosofei sobre os excessos da nossa era. É que ela adora os botões e as luzinhas. Mas também é capaz de divertir-se com um simples pano, ou bolhas de sabão, ou o balão que ganhou no dia da vacina.

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