sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Nobreza

Eu evito trazer temas polêmicos para esse blog, porque ele tem o propósito de relatar as minhas coisinhas de míope e a minha vidinha pequeno-burguesa. Mas não adianta, está nos genes. A polêmica e a rebeldia correm soltas nas veias das famílias Becker e Lovato.
Há anos que já reparei que o Brasil sente falta da nobreza. Os brasileiros adoram reis e rainhas (Rei Roberto, Rainha dos Baixinhos, Rei do Futebol e por aí vai). O que recentemente me ocorreu foi que o Brasil, na verdade, segue tendo sua nobreza, muito parecida com a dos tempos do Império. Só que o nome dessa nobreza é Poder Judiciário. Vivem e trabalham em palácios. Se os cargos não são vitalícios, as aposentadorias milionárias são. E, se seus filhos não herdam os cargos, fazem parte de um minoria que pode dar-se ao luxo de serem sustentados pelos pais até os 30 anos para estudar para concursos públicos. (Não tiro o mérito do estudo para quem quer que seja, mas acho que há poucos filhos de garis e faxineiras ingressando na magistratura, mesmo que isto não seja culpa somente dos juízes). São intocáveis. Não me entendam mal, sou francamente a favor de um judiciário independente, mas para tudo existe um limite. Estes senhores recusam-se a ter qualquer órgão que os fiscalize, como se o título de juiz garantisse idoneidade moral. Ora, existem juízes corruptos como existem médicos, governadores, garis e guardas de trânsito corruptos. E existem juízes que, tecnicamente não são corruptos, pois não infringem a lei, mas são moralmente comprometidos com seus altos salários e privilégios. Com um golpe de caneta, decidem administrativamente que os funcionários do judiciário devem receber determinada quantia por uma suposta indenização ou correção monetária de algum plano econômico de vinte anos atrás. E que ninguém investigue nada, porque isto é crime e dá cadeia. Por que eu, uma simples cidadã, não tenho direito de saber o que é feito do dinheiro dos meus impostos? Dinheiro este que deveria ser aplicado também em outras áreas. Por exemplo, em educação básica, para o filho da faxineira poder chegar a ser juiz um dia.
Aparentemente, a nobreza (como qualquer nobreza) não quer perder seus privilégios. E também não quer muita gente tendo acesso aos mesmos privilégios que eles. Por tudo isso, eu escrevi este texto para louvar a coragem desta senhora chamada Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça, que ousa bater de frente com a nobreza brasileira. Temo por ela, acho que não vai durar muito. Quando se trata de defender privilégios, a democracia brasileira rapidamente descamba para um faroeste tupiniquim.

Um comentário: