terça-feira, 20 de março de 2012

Park Avenue

Tenho o hábito de ir trabalhar de lotação. Tem seus incômodos, mas nada se compara ao extremo incômodo de enfrentar o trânsito da manhã e, principalmente, de estacionar o carro próximo ao meu trabalho. O lotação é ótimo. Para a uma quadra da minha casa e me deixa a 50 metros do trabalho. Vou sentada, naquele estado de consciência vago entre o sono e a vigília, refestelada no ar-condicionado quase gelado demais. Além disso, posso olhar a paisagem pela janela.
Não que haja grandes paisagens no trajeto. Hoje, na Bento Gonçalves (para quem não conhece Porto Alegre, uma avenida grande, movimentada e fedorenta, com um enorme e barulhento corredor de ônibus que corta tudo em dois), fiquei a reparar algumas casinhas que sobreviveram à passagem do tempo. Pequenos sobrados (lembram as "townhouses", uma colada na outra, com escadas na frente). Alguns até conservados, pintadinhos. Seriam bonitos se não tivessem aquela aparência listrada que as grades deixam por toda a cidade. São gaiolinhas com sobrados acoplados. Triste.
Na volta, fiquei a reparar nos prédios da João Pessoa, outra avenida grande, movimentada e fedorenta e com corredor de ônibus. A diferença é que a João Pessoa, com todo o barulho e fedor do diesel de um zilhão de ppm que usam nos nossos ônibus, fica na margem de um lindo parque. Com árvores grandes e frondosas, um lago e muitas pracinhas infantis, é perfeito para passear e um colírio para olhar, no meio do caos que o cerca.
Em cidades grandes, civilizadas e cosmopolitas, como Londres e Nova York, o metro quadrado em volta dos grandes parques é, possivelmente, o mais caro da cidade. Em Porto Alegre, não. O parque mais tradicional da cidade é cercado de eixos viários barulhentos e poluídos (João Pessoa e Oswaldo Aranha). E desvalorizados. Grande parte dos prédios são de imóveis de aluguel para estudantes. Prédios velhos e mal cuidados, com pixações e a sujeira do nosso diesel-um-zilhão-de-ppm entranhada em todos os lados. Cinza. Meio preto. Um contraste com o colírio do parque.
É que cidades grandes, civilizadas e cosmopolitas, como Londres e Nova York, dispõem de um sistema de transporte público que inclui quilômetros de metrô. O que dispensa o uso de corredores de ônibus alimentados por diesel-um-zilhão-de-ppm.
A gente chega lá. Depois da copa, se ela vier.

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