domingo, 13 de novembro de 2011

Kombi

Tomávamos a kombi. Naquela época, se dizia tomar a kombi em vez do lotação. É que em tempos ancestrais, os táxi-lotações de Porto Alegre foram kombis. E o vô e a wó, por qualquer razão, tomavam a kombi, nunca pegavam nada. Tomavam o ônibus, tomavam um táxi, tomavam a kombi.
Descíamos próximo ao Renner da Otávio Rocha, no ponto final. Íamos, naturalmente, ao Renner, que naquela época também vendia coisas para a casa e brinquedos. Depois, caminhávamos até o Mesblão. O Mesblão era um ponto de referência na cidade. Na aula de inglês, para aprender a pedir informações, perguntávamos:
- Excuse me, do you know where Mesblão is?
O Mesblão era gigantesco, com uns 7 andares de loja. A típica loja de departamentos, com roupas, bazar, brinquedos e setor de noivas. Muitos e muitos anos depois que o Mesblão fechou, trabalhei naquele prédio, que virou uma clínica médica (também já fechou). Trabalhava no sétimo andar. Na época da Mesbla, era o setor das noivas. E os seguranças noturnos da clínica contavam cada história...
Enfim, era uma tarde de compras de Natal para o Renner e a Mesbla. E sabíamos os presentes de todo mundo, tinha que se guardar segredo.
Em outra tarde, íamos na Casa Sloper, na Lyra, nas Paulinas e nas Americanas. Já existiam os shoppings, mas a wó preferia fazer compras no Centro. Não tinha Casa Sloper no shopping. E todos os perfumes, lenços, necessaires e outras miudezas eram comprados na Sloper. Eventualmente, passávamos no Guaspari na volta para casa. Acho que lá havia umas coisas mais baratas. Nessas duas tardes de compras, quase todo o natal era resolvido. E olha que a lista era longa. Incluía até o Irmão João, que invariavelmente ganhava uma camisa.
As ajudantes mais assíduas eram a minha irmã e eu, porque morávamos em Porto Alegre. Mas os primos de São Paulo e Brasília às vezes já tinham chegado para o natal e participavam também.
Tudo isso acontecia no final de novembro, quase sempre já em dezembro. Um calor senegalesco na cidade. Mas era muito bom.
Hoje, o natal começa em outubro (ao menos no Barra Shopping). E as compras de natal pertencem aos shoppings. É mais prático, tem mais lojas, tem estacionamento e, lógico, ar condicionado. A vida é mais fácil e menos mágica. Naquela época, o suprassumo do conforto era tomar um táxi no final da tarde de compras. Que maravilha, todo mundo no fuscão vermelho-tijolo com as janelas escancaradas e as compras no porta-malas dianteiro. Mas também não tinha congestionamento no túnel. Fala mal dos anos 80!
Neste ano, todo mundo vai ganhar Natura na minha família. Não estou com ânimo para compras nem em shopping e nem em lugar nenhum. O Natal vai ter que ser reinventado, porque nunca mais será igual aos últimos 34 natais da minha vida, na companhia da minha Wó Wanda.

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