quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A Volta

Hoje voltei a trabalhar. Muito bem recebida pelos colegas e pacientes, boa a sensação de fazer algo que eu sei fazer. Eu não sou uma dona de casa muito boa. Gosto de trabalhos manuais, mas é difícil ter tempo para essas coisas com bebê em casa. Ainda mais sabendo que a volta ao trabalho está próxima, querendo curtir cada minutinho com ela.
Trabalho é um mal necessário. Mesmo que fosse milionária, não saberia não trabalhar e só viver de rendas. Talvez por um tempo, não para sempre.
O posto continua mais ou menos o mesmo, as pessoas continuam mais ou menos com os mesmos problemas. Vários bebês nasceram, várias novas gestantes (um número assustador delas, na verdade). Alguns velhinhos morreram, alguns pacientes com câncer morreram. A sala de espera me lembra aquela canção dos Mutantes:
"(...) Mas as pessoas na sala de jantar, essas pessoas na sala de jantar estão ocupadas em nascer e morrer (...)"
O sistema de marcação de consulta melhorou, preciso dizer isso (exceto para traumato/ortopedia, que continua uma tragédia). Porto Alegre continua basicamente alheia ao século 21, sem prontuário eletrônico, escrevendo tudo no papel, pedindo exames no papel, encaminhando pacientes para consulta de especialista no papel (de posse do papel, a pessoa responsável marca a consulta pelo computador, é a maior novidade). Basicamente, continuo gastando no mínimo um terço do meu tempo dentro do posto a preencher papéis. Aqueles imensos fichários de aço com gavetões enormes, repletos de pastas e envelopes meio-que-se-rasgando, organizados por rua. Coisa mais anos 1950 de se enxergar.
Continuamos com os nossos 14 mil pacientes atendidos por 3 equipes incompletas de Saúde da Família e sem agente comunitário. Alguém já viu PSF sem agente comunitário de saúde?
Meu caro colega médico, que ficou sozinho como responsável médico por toda essa gente está vivo e respirando sem ajuda de aparelhos. E trabalhando no posto, porque eu achei que lá pelas tantas ele poderia pedir transferência. Amor à profissão e ao povo do bairro. Também só conseguiu sobreviver graças às enfermeiras competentíssimas que trabalham conosco. Sem elas, o mundo não gira.
E, como diria um antigo comentarista do rádio,
À demain, que eu sigo em frente.

Um comentário:

  1. Bebel, adorei o texto! Como diria uma mestra amiga minha,"ainda há vida inteligente na terra"!
    E viva a equipe do teu PSF!

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